A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) foi gestada em 1971/72 no governo do presidente Emílio Médici, em resposta à necessidade urgente de acelerar a produtividade do setor agrícola. No período 1970/73, o PIB crescera à média de 11,2% ao ano e o setor industrial (então um dos mais sofisticados do mundo emergente), à taxa de 12,6% ao ano. O setor agrícola crescia a pouco mais de 6% ao ano, mas com muita variabilidade.
Como consequência, o saldo em conta-corrente com relação ao PIB, que no triênio anterior (1967-69) havia sido da ordem de 1,2%, saltara para um deficit de 2,7% ao ano, um número preocupante. Mais preocupante eram as perspectivas. O então ministro de Finanças da França, Valéry Giscard d’Estaing (um grande amigo do Brasil), havia nos confidenciado que os produtores de petróleo organizavam um cartel (a Opep) que elevaria o preço do produto. A situação do Brasil era dramática. A Petrobras, sob o comando do general Ernesto Geisel, estava estagnada havia anos na produção de apenas 20% do nosso consumo, o que antecipava um grave endividamento. De fato, no período 1975/79, acumulamos um deficit em conta-corrente médio anual de 4,1% do PIB. Por isso, enfrentamos a crise mundial de 1979 (devido ao ajuste dos EUA) profundamente endividados, mas com o PIB ainda crescendo a 6,8% ao ano.
Era mais evidente do que nunca que a restrição externa condicionava a possibilidade de crescimento do país. A política econômica em vigor (1967-73) privilegiava as exportações industriais (a participação das exportações industriais do Brasil com relação às do mundo crescia 15% ao ano) e era óbvio que precisávamos estimular o aumento da produtividade agrícola para atender a demanda interna e a externa.
O grande economista Eugênio Gudin insistia que “copiar” a produção industrial era fácil (o mundo estava cheio de exemplos), mas não havia como “copiar a inexistente agricultura tropical” que era nosso destino. A Embrapa nasceu em 1973 para “inventá-la” e foi um formidável sucesso da intervenção estatal bem “focada”.
Parece que é muito difícil resistir à lei da entropia. Ela sugere que toda organização esgota sua energia inicial na crescente desorganização, o que é agravado, no caso das estatais, pela interferência da política partidária. A resistência à entropia exige uma ampla criação de nova energia, como é o caso, por exemplo, do Banco do Brasil, com sua intensa capacitação interna com recursos próprios. Mas quem depende do Orçamento público é, mais dia, menos dia, vítima da “maldição entrópica” que está escondida no DNA do Estado. Pobre Brasil.
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