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Planalto teme que Lava Jato dure além de 2018

Planalto teme que Lava Jato dure além de 2018

Josias de Souza

O despacho em que o juiz Sérgio Moro mandou prender José Dirceu foi lido com lupa num gabinete do Palácio do Planalto. A autoridade destacada para percorrer as 37 páginas do documento concluiu que, na Operação Lava Jato, o fundo do poço é apenas uma etapa. Dissemina-se entre os auxiliares de Dilma Rousseff a impressão de que o escândalo atravessará a próxima sucessão presidencial, em 2018.

“Há uma fundada suspeita de que o esquema criminoso vai muito além da Petrobrás”, anotou Sérgio Moro num trecho do despacho. Ele realçou que o assalto “foi revelado, em detalhes, em depoimentos prestados por diversos criminosos colaboradores.” Empilhou quatro exemplos.

1. “Pedro Barusco, ex-gerente executivo da Área de Engenharia da Petrobras, […] já declarou que o esquema criminoso foi reproduzido na SeteBrasil e já há alguma prova de corroboração nesse sentido…”

2. “Paulo Roberto Costa declarou em Juízo que a mesma cartelização das grandes empreiteiras, com a manipulação de licitações, ocorreria no país inteiro.”

3. “Dalton dos Santos Avancini, ex-presidente da Camargo Corrêa, declarou que o mesmo esquema criminoso foi reproduzido na Eletrobras Termonuclear – Eletronuclear, inclusive relatando acordos para pagamentos de propina no segundo semestre de 2014, quando as investigações da assim denominada Operação Lava Jato já haviam se tornado notórias.”

4. “O mesmo Dalton Avancini, em seu acordo de colaboração, também revelou acordos de pagamentos de propina envolvendo a Camargo Corrêa, a Andrade Gutierrez e a Odebrecht nos contratos de construção da hidrelétrica de Belo Monte.”

Nesta segunda-feira (3), escalado como porta-voz da reunião do núcleo de coordenação política com Dilma, o ministro Jaques Wagner (Defesa) foi instado a comentar a prisão de Dirceu. Disse que é preciso conciliar “dois canais paralelos.” Num, “as investigações seguem”. Noutro, “o país também segue, com suas empresas funcionando e com a economia funcionando. O ambiente é que a gente tem que tentar melhorar para estimular investidores e estimular a própria economia a crescer.”

O ministro disse que suas palavras não devem ser confundidas com um ataque à investigação. “Não tem nada contra, até porque não tem como ser contra. A sequência da investigação vai ser dar, até que chegue aos tribunais últimos, e vai ter que ter um desfecho, porque tudo tem um desfecho.”

Vale a pena ouvir mais um pouco de Jaques Wagner: “O que eu estou falando só é que a gente dorme e acorda sempre com uma notícia dessa. Então, do ponto de vista do ambiente de negócios, esta é minha preocupação maior. Se a gente está precisando de uma retomada, a gente precisa de um grau de estabilidade para que os investimentos ocorram normalmente.”

O problema é que, na Era petista, a normalidade tornou-se insuportável. O leitor palaciano grifou um trecho de Sérgio Moro: “Há […] vários elementos probatórios que apontam para um quadro de corrupção sistêmica, nos quais ajustes fraudulentos para obtenção de contratos públicos e o pagamento de propinas a agentes públicos, bem como o recebimento delas por estes, passaram a ser pagas como rotina e encaradas pelos participantes como a regra do jogo, algo natural e não anormal.”