por Claudio Slaviero
Recentemente, o ex-presidente Lula afirmou em um artigo que o Brasil é o país das oportunidades e que isso incomoda e contraria interesses. É inegável que Lula tem o dom da palavra. É incontestável sua eloquência, sua desenvoltura ao falar e a propriedade que tem de convencer. Lula tem o dom de dourar a pílula para vender seu peixe e usa de artimanhas demagógicas e falaciosas para mostrar um Brasil que não corresponde exatamente à realidade.
Lula afirma que as atenções estão voltadas para mercados emergentes como o Brasil. Lamentavelmente o Brasil não é mais o queridinho das reuniões multilaterais. Hoje, a política econômica brasileira é desastrosa e a externa, errática. Deixamos de ser considerados um país de bom investimento e estamos entre os mais vulneráveis, junto com Índia, Turquia, Indonésia e África do Sul. Encerrou-se um ciclo e hoje só se fala nos Estados Unidos e na Ásia. As agências de classificação rebaixam o Brasil, em função da combinação da deterioração das contas públicas, perspectiva de crescimento mínimo e piora nas contas externas.
Diz que o PIB cresceu 4,4 vezes, supera US$ 2,2 trilhões e que o comércio externo passou de US$ 108 bilhões para US$ 480 bilhões ao ano. É verdade, mas nem tudo é obra dos dois últimos governos ou do PT. A economia vinha sendo fortalecida desde os governos de Itamar Franco e Fernando Henrique, com a adoção do Plano Real: moeda forte e inflação controlada. Vamos deixar bem claro que, apesar do mérito dos governos que os antecederam, os governos petistas não consolidaram os fundamentos econômicos do real.
Em 2002, a inflação estava em processo de declínio, caindo de 12,5% para os atuais 5,9%. O problema é que agora, com uma política econômica desastrosa, estamos entre os “frágeis”, países onde a inflação é considerada alta, o crescimento econômico é modesto e os desequilíbrios fiscal e externo são acentuados. A taxa de poupança em 2013 foi de míseros 13,9% do PIB. Nesse nível, é impossível pensar em grandes projetos de investimento do país sem contar com recursos externos.
Em 2002, o total da dívida brasileira (interna/externa) era de R$ 851 bilhões. Em 2007, Lula disse uma verdade quando afirmou que pagou a dívida externa. Só que não disse que, para isso, aumentou a dívida interna e o total passou para R$ 1,4 trilhão (em cinco anos a dívida quase dobrou). Em 2010, voltamos a dever externamente R$ 240 bilhões, com a dívida total de R$ 1,9 trilhão. A dívida pública brasileira fechou 2013 em R$ 2,1 trilhões, um recorde, a segunda maior dívida entre os países subdesenvolvidos. É daí que vem o dinheiro que Lula e Dilma gastam no PAC e nas bolsas (família, educação, cultura, para presos, prostitutas etc.) e de onde dizem ter tirado 36 milhões de brasileiros da pobreza. Não é com dinheiro do crescimento, mas com dinheiro de endividamento. A dívida pública já é do tamanho daquilo que o país ganha todos os anos e cresce 2,5 vezes mais rápido que o PIB. Quem vai pagar essa conta?
Lula diz que 42 milhões de brasileiros alcançaram a classe média. Dizer que quem recebe salário a partir de R$ 320 por mês ou renda familiar de R$ 1.540 é considerado de classe média só pode ser deboche. Quanto, então, ganha quem pertence à classe baixa? Como viver, alimentar-se, estudar ou ir ao médico com um salário desses? É um embuste! Serve apenas para dourar índices e dizer que houve melhora no nível de vida das pessoas, que a miséria foi erradicada e que vivemos contentes em nossa pobreza.
É verdade dizer que o país duplicou a safra em 2013, batendo recorde de 189 milhões de toneladas. Só que ele não diz que, na hora de vender essa riqueza, o Brasil fracassa. Sem infraestrutura adequada de portos, estradas, ferrovias e silos para armazenamento, a exportação de um contêiner demora 13 dias e custa US$ 2,2 mil, enquanto em Cingapura leva metade do tempo, por um quarto do valor.
Lula diz que triplicou o orçamento federal para a educação. É de se perguntar: por que, então, a qualidade do ensino continua ruim? A média do Pisa (prova que avalia os estudantes) subiu apenas 9,2% entre 2000 e 2012, e o país ocupa a 57.ª posição entre 65 nações. Ainda é de se perguntar: há um projeto de desenvolvimento científico e tecnológico para o país? Qual é nossa política industrial? Qual é o projeto de futuro?
Ao dizer que o governo ampliou a capacidade de energia elétrica, esquece que a geração não acompanhou o consumo e o sistema elétrico opera no limite. Nos últimos três anos, houve uma média de cinco apagões por mês (o último, em fevereiro deste ano). E os custos gerados pelo uso das termelétricas ultrapassaram R$ 12 bilhões, em conta que os consumidores serão obrigados a pagar a partir de 2015. Aliás, desde 2012 o governo e a Aneel drenaram R$ 32 bilhões para as termelétricas de grupos ligados à família Sarney e a Eike Batista. Deve ser por isso que há oito anos a Aneel retém nas gavetas 640 projetos de novas Pequenas Centrais Hidrelétricas.
Lula anunciou em 2006 a autossuficiência em petróleo. Desde então, a produção caiu 17%. Em 2013, a Petrobras gastou R$ 16,5 bilhões para importar combustíveis e vem amargando prejuízos para si e para seus investidores. Nos últimos três anos, perdeu 51% de seu valor de mercado e está envolta em denúncias de corrupção. Sem contar com o rombo de quase US$ 1,2 bilhão aos seus cofres na aquisição inexplicável de uma refinaria de petróleo em Pasadena, nos EUA.
Lula diz que vivemos sob uma democracia plena. É de se perguntar: que tipo de democracia? Aquela dos países como Inglaterra, EUA e Alemanha, onde as instituições são respeitadas? Ou aquela bolivariana seguida por Bolívia, Cuba, Argentina e Venezuela, que cala a imprensa, onde o Congresso é uma extensão do Executivo e o Judiciário vive sob ataque e controle?
O Brasil de verdade está muito longe do apregoado por Lula, Dilma e seus fiéis seguidores.
Cláudio Slaviero, empresário e ex-presidente da Associação Comercial do Paraná, é autor do livro A vergonha nossa de cada dia
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