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PIB e juros pressionam pelas reformas

 

cresÉ mesmo para ser comemorado o primeiro resultado positivo de PIB desde 2014, obtido no trimestre inicial deste ano. O 1% de expansão de janeiro a março, sobre o trimestre anterior, o último de 2016, quando houve pequeno avanço de 0,3%, marca, tecnicamente, a saída do Brasil da recessão — das mais profundas já registradas nas estatísticas. Aproximadamente 8% em dois anos, com um saldo, até agora, de 14 milhões de desempregados, e uma esteira de dramas pessoais.

O fato de a economia ter conseguido PIBs positivos em dois trimestres consecutivos, segundo o IBGE, atende ao preceito técnico para se afirmar que a recessão acabou, como alardeado pelo presidente Michel Temer. Mas as circunstâncias não estimulam excesso de otimismo. Há questões objetivas que aconselham pés no chão. Uma delas é que este bom resultado trimestral se deve, em grande medida, à excelente safra, responsável por elevar o PIB da agropecuária em 13,4%. Ótima notícia, mas que não se repetirá até o final do ano, por viver o setor de ciclos. Colhida e comercializada a safra, os efeitos positivos sobre o PIB, ainda mais nesta dimensão, cessam. Ao lado disso, o consumo das famílias continua fraco — queda de 1,9% no trimestre —, dado coerente com o enorme desemprego. E um importante fator de estímulo à expansão, o investimento, está na mesma situação (queda de 3,7%). Neste sentido, o dado positivo da indústria (mais 0,9%) deve ser relativizado, pois baixos investimentos não ajudam o setor.

Indiscutível que, diante da herança recebida de Dilma Rousseff e suas heterodoxias lulopetistas — foi tão forte a recessão provocada por ela e “desenvolvimentistas” que o PIB retrocedeu e patina no nível de 2010 —, o crescimento do primeiro trimestre pode sinalizar alguma luz no fim do túnel, mas não se sabe a extensão dele, em função do quadro político.

Diante deste mesmo pano de fundo, a diretoria do Banco Central, reunida no Conselho de Política Monetária (Copom), anunciou anteontem mais um corte na taxa básica de juros (Selic), a sexta consecutiva, de um ponto percentual, reduzindo-a de 11,25% para 10,25%. Antes de a crise deflagrada a partir da conversa nada protocolar entre Temer e o empresário Joesley Batista, da JBS, revelada pelo GLOBO, e seus desdobramentos, apostava-se em um corte maior. A cautela do BC foi justificada em nota pelo uso, cinco vezes, da palavra “incerteza”. Pois a incerteza política atingiu as estratégicas reformas da Previdência e trabalhista, em diversos estágios de tramitação no Congresso. É crucial que a base do governo, independentemente de Temer, se reorganize para aprová-las em definitivo. Pode parecer ingênuo, a esta altura, clamar para que se comece a votar na Câmara a PEC da Previdência e se finalize no Senado a reforma trabalhista. Mas esta é uma questão de Estado e da sociedade, não do governo. Estão em jogo a consolidação da retomada do crescimento e a volta do emprego.