PF e MP, que ouvem depoimento de Vedoin, apuram armadilha do empresário contra o PT
Por Mino Pedrosa/Quidnovi [21/9/2006]
Quando sentar esta tarde, em Cuiabá, diante do procurador da República Mário Lúcio Avelar e do delegado federal Diógenes Curado Filho, que conduzem as investigações contra a Máfia das Sanguessugas e que tentam apurar a origem e o destino do dossiê contra o ex-ministro da Saúde José Serra, o empresário Luiz Antônio Vedoin será confrontado com degravações de escutas telefônicas e com transações financeiras que o ligam diretamente ao empreiteiro paulista Abel Pereira.
O encontro entre Luiz Antônio Vedoin, homem que confessou ser corruptor de parlamentares e prefeitos e que pagava propinas para ver inscritas no Orçamento e depois liberadas pelo Governo Federal emendas destinadas a fazer com que órgãos públicos lhe comprassem ambulâncias, será constrangedor para o empresário e para uma ninhada de políticos tucanos. As conversas entre Abel Pereira e Vedoin são antigas, mas se intensificaram antes do primeiro depoimento de Luiz Antônio Vedoin e de Darci Vedoin aos procuradores da República, no Mato Grosso, e aos integrantes da CPI das Sanguessugas. Isso remonta ao início do escândalo em curso, há cerca de quatro meses. Nesses depoimentos, os Vedoins driblavam perguntas que se referiam aos ex-ministros José Serra e Barjas Negri, titulares da pasta da Saúde no governo Fernando Henrique Cardoso, e chegaram mesmo a assegurar que os tucanos e o empresário Abel Pereira eram "corretos". Isso se deu durante o depoimento aos parlamentares da CPI.
Policiais federais e procuradores da República têm em mãos pagamentos cruzados entre Abel Pereira e os Vedoins. Pereira é dono da empreiteira Cicat, de Piracicaba, cidade do interior paulista administrada pelo hoje prefeito Barjas Negri. Na entrevista que concedeu à revista Istoé, na semana passada, e que também é objeto de investigação, Luiz Antonio Vedoin implicou Pereira no caso dizendo que, durante as gestões de Serra e de Negri no Ministério da Saúde, o empreiteiro piracicabano ficava com 10% do valor das liberações orçamentárias destinadas a emendas que tinham por objetivo financiar a compra de ambulâncias
As ligações e os encontros recentes entre Luiz Antônio e Darci Vedoin e o empreiteiro Abel Pereira tornam-se relevantes para Polícia Federal e para o Ministério Público porque sustentam aquela que é a viga-mestra das investigações sobre o dossiê contra José Serra. O QuidNovi relata a seguir os passos dessas investigações e ressalta que essa é a tese central do que está sendo apurado. A ser verdade, o que emergirá desse submundo é péssimo tanto para o PT, que já tem sua participação comprovada no episódio restando apenas ser revelado o nome do pagador do dossiê pelas bandas petistas, quanto para o PSDB, que pode ter mergulhado tão fundo quanto os adversários eleitorais no submundo do crime e dos papelórios:
1. Ao começarem a surgir as primeiras investigações e notícias contra a Planam e os Vedoins, Abel Pereira procurou os amigos empresários no Mato Grosso para assegurar que nem seu nome nem o de seus amigos — leia-se, tucanos em geral e Serra e Negri em particular — não seriam declinados nos depoimentos. As "relações comerciais e financeiras" recentes entre eles podem ter sido motivadas por isso?
2. Os Vedoins teriam cumprido o acordo? A PF e o MP crêem que sim, pois as denúncias foram seletivas em relação a parlamentares e a ex-ministros do PSDB. Eles não denunciaram nada ligado às gestões tucanas na Saúde nos depoimentos judiciais e, apertados pelos petistas na CPI, negaram-nas. A partir daí, as denúncias oriundas das sanguessugas passaram a causar muito estrago no Congresso, em geral, e em candidaturas petistas, em particular.
3. Expedito Veloso, diretor do Banco do Brasil que estava licenciado para trabalhar na campanha reeleitoral de Lula e foi demitido ontem, teria vasculhado registros bancários dos Vedoins e da Planam — ilegalmente — e teria organizado um calhamaço de provas que revelariam ligações financeiras entre as empresas dos sanguessugas e o empreiteiro piracicabano Abel Pereira. Hoje, 21 de setembro, o repórter Ugo Braga, do jornal Correio Braziliense, revela a existência de um cheque comprometedor vinculando Abel e Luiz Antônio. Com esse papelório nas mãos, Veloso teria procurado os Vedoins e proposto uma entrevista fechando o elo entre a máfia e o PSDB. Apresentado às evidências de que haveria como se provar suas ligações com o PSDB, os Vedoins aceitaram dar a entrevista "pautada" pelos petistas mas teriam pedido dinheiro para isso. O PT teria aceitado pagar e teria acertado que colocaria a entrevista em uma revista. A idéia era usar a Época e, agregada a ela, a Rede Globo — daí a necessidade de reunir DVDs com imagens. Um repórter de Época foi então procurado por Oswaldo Bargas e Jorge Lorenzetti. Luiz Antônio Vedoin, que já havia sido colocado sob suspeição de "jogo duplo" pela revista, recusou-se a dar entrevista para a publicação da Editora Globo. Foi então que Hamilton Lacerda procurou a revista Istoé pessoalmente. Ele, que era até ontem coordenador de comunicação da campanha de Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo, foi à redação da Editora Três
4. Depois de mandar o texto para a sede da publicação
Essas são as questões que PF e MP querem responder, hoje à tarde, com Luiz Antônio Vedoin. O empresário, que é corrupto confesso, está em maus lençóis na Produradoria da República e na Polícia Federal, que crêem terem sido passadas para trás no acordo de delação premiada com os Vedoins. Caso exista, de fato, um elo entre o PSDB e as denúncias seletivas e os silêncios oportunistas dos Vedoins, isso não tira a relevância da descoberta que pode ser letal para o PT: de quem era o dinheiro que pagaria, em nome do partido do presidente, o dossiê? Mas, responder a essa pergunta, não pode tirar o foco da apuração sobre o conteúdo do sossiê. Ele é falso ou verdadeiro?
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