Preso pela Polícia Federal na sexta-feira (10), o ex-deputado federal André Vargas acumulou mágoas com seu antigo partido, o PT, após cair em desgraça com a revelação de sua ligação com o doleiro Alberto Youssef, um dos operadores do esquema de corrupção descoberto pela Operação Lava Jato na Petrobras.
Em conversas reservadas antes da prisão, Vargas costumava apontar o partido como seu “algoz mais duro” e se dizia abandonado. Ao mesmo tempo, ele defendia o tesoureiro petista, João Vaccari Neto, que virou nos últimos meses um dos principais alvos da Operação Lava Jato. As informações são da Folha de S.Paulo.
Afastado da política, desfiliado do PT e sem mandato desde sua cassação pelo plenário da Câmara dos Deputados no fim do ano passado, Vargas avisou a amigos em fevereiro que iniciaria uma nova empreitada com a esposa: passaria a vender perfumes.
Segundo relatos obtidos pela Folha, ele enviou mensagem a colegas avisando que entrara no “mundo do Marketing Multinível da Up Essence”. O site da Up Essência informa que a empresa fabrica perfumes e oferece uma “excelente oportunidade” para quem quiser revender seus produtos. A empresa promete lucros polpudos, “muito dinheiro em curtíssimo prazo”.
Segundo a Folha apurou, Vargas também cogitou investir numa franquia de sorvete de iogurte, mas amigos afirmam que o negócio não prosperou. Desde que foi cassado, ele dizia que sua prioridade era cuidar da família.
As ligações de Vargas com Youssef foram reveladas logo no início da Operação Lava Jato, antes mesmo da descoberta dos desvios na Petrobras que se tornaram o foco principal das investigações.
Vargas ajudou um laboratório controlado pelo doleiro a fazer negócios com o Ministério da Saúde, foi flagrado trocando mensagens comprometedoras com Youssef e pegou carona em um jatinho pago pelo doleiro para passar férias no Nordeste em 2014.
O Conselho de Ética da Câmara concluiu que Vargas quebrara o decoro parlamentar e ele foi cassado pelos colegas no plenário em dezembro.
Antes da cassação, dirigentes do PT pressionaram Vargas a se desfiliar do partido, para evitar que o caso criasse embaraços para a campanha da presidente Dilma Rousseff à reeleição. Em maio, o PT chegou a pedir ao Tribunal Superior Eleitoral a perda do mandato de Vargas.
O ex-deputado, que se desfiliou do partido, disse na época que o “PT só o prejulgou no processo” e foi “mais duro comigo do que os demais partidos com seus filiados”. Sem legenda, ele ficou impedido de disputar cargos nas eleições do ano passado.
MALAS
Em novembro, quando Vaccari foi apontado nas investigações da Lava Jato como um operador encarregado de distribuir dinheiro de propina ao PT, Vargas saiu em defesa do antigo companheiro em conversas reservadas.
“Operador sem contas no exterior e sem carregar malas. Para pegá-lo, vai ter que atacar as doações oficiais, conforme já adiantou o MPF [Ministério Público Federal]”, disse Vargas numa ocasião.
Vaccari nega qualquer ligação com o esquema de corrupção na Petrobras e afirma que todas as doações que recebeu no PT foram registradas de acordo com a lei. Os procuradores da Lava Jato dizem que muitas doações eram parte da propina devida pelas empresas envolvidas com o esquema na Petrobras.
Em suas conversas antes da prisão, Vargas dizia ser “vítima” de um “linchamento midiático por causa de um voo [de jatinho] e meia dúzia de conversas” com Youssef e reclamava por receber o mesmo tratamento que o do ex-deputado Luiz Argolo (SDD-BA), outro amigo de Youssef que foi preso na sexta-feira.
Ao listar suas diferenças, Vargas gostava de dizer que era “pobre”. Segundo o Ministério Público Federal, ele recebeu com um de seus irmãos R$ 13 milhões em propina de duas agências de publicidade que têm contratos com a Caixa Econômica Federal e o Ministério da Saúde.
Argôlo é acusado de ter recebido R$ 2,7 milhões em propina do doleiro Youssef.
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