Editorial, Gazeta do Povo
O ano de 2016 vai ser um período cheio de dificuldades para a maior empresa brasileira, a Petrobras. A estatal tenta se recuperar dos prejuízos que sofreu ao longo dos anos de administrações desastrosas do PT e planeja redução dos investimentos, do volume de petróleo extraído e do tamanho de suas operações.
Na semana passada, a empresa anunciou um ajuste no seu Plano de Negócios 2015-2019, reduzindo em US$ 32 bilhões o valor a ser investido no período. A empresa revisou também suas projeções para o câmbio e para o preço do petróleo, numa tentativa de se adequar ao cenário econômico mundial que se avizinha. O preço médio do barril de petróleo (Brent) – que já havia sido revisado (e reduzido) para US$ 55, em outubro de 2015 – teve sua estimativa de preço alterada, para US$ 45 neste ano. E o dólar, que antes era projetado a R$ 3,80, agora é estimado em R$ 4,06.
Seria suficientemente ruim o fato de o PT ter feito uma gestão ideológica da estatal. Porém, hoje já se sabe que o estrago feito na Petrobras não se restringiu à incompetência administrativa – o enorme esquema de corrupção e pagamento de propinas, desvendado pela Operação Lava Jato, causou ainda mais prejuízos financeiros e institucionais à empresa. Não bastassem esses dois fatores para influenciar a reestruturação dos planos da estatal, a Petrobras agora precisa avaliar com muita prudência o cenário externo desfavorável, especialmente no que diz respeito à queda do preço do barril de petróleo.
Analistas do setor avaliam que a nova estimativa de preço do barril é irrealista. Isso porque neste momento o preço do barril encontra-se num patamar próximo dos US$ 30 dólares e pode cair ainda mais, se forem levadas em conta análises feitas pelo Goldman Sachs. E, se esse valor se mantiver ao longo do ano, cai por terra a estratégia que a empresa estabeleceu para 2016.
Não bastasse esse ponto fraco no planejamento da empresa, há o temor de que o governo federal caia na tentação de aproveitar a baixa no valor do barril de petróleo para pressionar a Petrobras a reduzir o preço dos combustíveis, numa tentativa de conter a inflação. O preço dos combustíveis é um dos principais componentes que pressionam hoje o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O momento que vive a empresa é tão grave do ponto de vista financeiro que uma redução no preço dos combustíveis não só teria como consequência a queda no valor das ações, mas poderia ser fatal para a sobrevivência da empresa. Em comparação com os tempos de auge de avaliação da estatal, em maio de 2008, o valor de mercado da empresa caiu quase 80%.
Neste momento, a Petrobras encontra-se num momento de fazer escolhas decisivas. A blindagem da empresa a interferências políticas e o estancamento definitivo do esquema de propinas que persistiu durante anos são condições mínimas para reparar os prejuízos que o PT trouxe à empresa. É o mínimo, também, impedir que a estatal volte a ter uma gestão ideologizada como já ocorreu no passado – a título de exemplo, o ex-presidente Lula confessou, há alguns meses, que combinou de forma antecipada com o presidente boliviano Evo Morales a expropriação de unidades da Petrobras na Bolívia.
Esses são requisitos mínimos, mas ainda assim insuficientes para assegurar a sua sobrevivência. Há um risco enorme de que a empresa venha a se tornar insolvente. O total da dívida líquida da Petrobras hoje é de R$ 402,3 bilhões. Em 2014, a estatal teve faturamento de R$ 337,3 bilhões e um prejuízo de R$ 26,6 bilhões. É um quadro extremamente delicado. Embora se reconheça que a atual administração vem adotando um estilo mais profissional, só isso não bastará para recuperar a empresa. A Petrobras necessita estabelecer planos estratégicos factíveis com o cenário internacional e as condições de câmbio, a fim de evitar que amargue mais um ano de prejuízos. Mais que isso: será preciso uma administração da mais alta performance, que possa dar conta de melhorar muito o desempenho da estatal. É de se questionar se a atual gestão está à altura dessa tarefa.