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PEC da Transição: entenda o que muda com a decisão de Gilmar Mendes

A novela da PEC da Transição ganhou um novo capítulo. No domingo, a decisão de Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), foi de que os recursos utilizados em programas sociais, como o Bolsa Família e o Auxílio Brasil, não estão inscritos na regra do teto de gastos.

Com isso, é tirada a pressão do presidente eleito da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para aprovar a PEC da Transição. Desta forma, caso ele opte por um plano B para financiar o pagamento de R$ 600 do benefício, ele terá agora maior segurança jurídica.

decisão de Gilmar Mendes ocorre em meio à dificuldade do governo eleito em negociar a PEC da Transição na Câmara, pela pressão do Centrão por cargos na Esplanada dos Ministérios em troca de apoio à proposta. O plano B de Lula, respaldado pela decisão do ministro, é a abertura de um crédito extraordinário por meio de uma medida provisória (MP) para bancar o programa.

A PEC, porém, deve continuar a ser o plano A do novo governo, afirmou nesta segunda-feira o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O parecer de Gilmar Mendes sobre a PEC da Transição também abre caminho para que a Câmara dos Deputados tente reduzir o valor da proposta.

Por que o ministro Gilmar Mendes determinou que o Bolsa Família fique fora do teto de gastos?

Gilmar Mendes atendeu a um pedido da Rede Sustentabilidade, partido que apoiou Lula nas eleições deste ano.

Na prática, o que essa decisão permite?

Essa decisão reduz a pressão sobre o governo eleito para a aprovação da PEC da Transição, que já foi aprovada no Senado, mas está travada na Câmara a menos de duas semanas da posse de Lula. Ela dá mais segurança jurídica para uma outra alternativa de financiamento do programa: a abertura de crédito extraordinário por medida provisória (MP).

A equipe de Lula temia essa alternativa diante da possibilidade de quebrar regras fiscais, o que poderia levar a crime de responsabilidade. A decisão de Gilmar, portanto, dá mais segurança ao governo eleito de que pode lançar mão do plano B caso necessário e que conseguirá viabilizar sua principal promessa de campanha.

Por que o governo eleito enfrenta impasses na negociação da PEC da Transição na Câmara?

A PEC virou um impasse entre Lula e Lira, que se reuniram no domingo, 18, em Brasília – embora os dois tenham interesse na aprovação da proposta. Lula, para aumentar as despesas de 2023 e cumprir promessas de campanha. Lira, para destravar as verbas do orçamento secreto deste ano e ter poder de barganha nos recursos que serão liberados com a PEC. O presidente da Câmara é candidato a novo mandato à frente da Casa. A disputa está marcada para 1.º de fevereiro de 2023.

Os partidos do Centrão calculam não ter ainda os 308 votos necessários para a aprovação da proposta. Nos bastidores, muitos têm condicionado o apoio à PEC da Transição, sem mudanças, a uma farta distribuição de cargos na Esplanada.

Lira, por exemplo, calcula conseguir 90 votos do Centrão. Ele tenta emplacar o deputado Elmar Nascimento (BA), líder do União Brasil, no Ministério de Minas e Energia. Relator da PEC da Transição, Elmar foi chamado no último sábado para uma conversa com Lula. Há cobranças do Centrão por pastas com visibilidade e recursos, como Cidades e Transportes, que serão recriadas, além de Saúde. Lula, porém, não aceita entregar Saúde, que ficará com a socióloga Nísia Trindade Lima, presidente da Fiocruz.

A decisão de Gilmar invalida a PEC da Transição?

Não. A PEC, se aprovada como está, vai permitir ampliar o teto em 145 bilhões para o programa social. A liminar de Gilmar, porém, permite abrir crédito extraordinário apenas para pagar o restante para completar os R$ 600 – valor avaliado em R$ 52 bilhões.

Segundo explicou ao jornal O Estado de S. Paulo um técnico responsável pela redação da PEC, na prática, a decisão permitiria ao governo eleito “retirar” esse valor da proposta em 2023, liberando espaço no Orçamento.

O governo eleito pretende insistir na PEC da Transição mesmo com a decisão de Gilmar?

A PEC da Transição continua a ser o plano A do governo eleito, como declarou o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Isso porque a decisão de Gilmar libera o futuro presidente para aumentar o Bolsa Família de R$ 400 para R$ 600, ampliando o valor previsto atualmente no Orçamento de 2023, fora do teto de gastos, mas não resolve outros gastos que Lula quer liberar com a aprovação da PEC, como o benefício extra de R$ 150 por criança de até seis anos, promessa de Lula os recursos para recompor as áreas de saúde e educação e a construção de obras públicas no próximo mandato.

Aliados de Lula reforçam que o presidente eleito não vai desistir da PEC, apesar da decisão de Gilmar. O despacho poderá ser submetido aos outros ministros do Supremo no ano que vem, o que aumenta a incerteza sobre o desfecho, além de não contemplar acomodar outras promessas de Lula.

Com a decisão de Gilmar, como fica se a PEC for aprovada?

Após a decisão, se a PEC passar for aprovada como passou pelo Senado, Lula poderá assinar uma medida provisória aumentando o Bolsa Família e usar o valor da PEC em outro lugar. Por conta disso, haverá pressão para desidratação do valor da proposta na Câmara.

texto da PEC aprovado no Senado amplia o teto de gastos em R$ 145 bilhões para bancar o Bolsa Família, e permite R$ 23 bilhões em despesas fora da regra fiscal para investimentos, levando o valor a R$ 168 bilhões. A PEC, porém, permite ainda outras exceções ao teto, que elevam o impacto fiscal de 193,7 bilhões, segundo cálculos do Tesouro Nacional.

Dirigentes do Centrão só concordam em aprovar o valor solicitado pelo presidente eleito se o grupo ganhar ministérios e cargos e controlar as verbas liberadas pela proposta. Articuladores dizem que o valor aprovado será proporcional às entregas do petista para os políticos.

A decisão de Gilmar pode ir a plenário do STF?

Pode, mas esta segunda (19) foi o último dia de funcionamento do STF em 2023. Portanto, para isso, teria de haver uma sessão extraordinária até a meia-noite, ou só no ano que vem. Se fosse para ir a plenário de forma presencial, o julgamento já teria de ter sido pautado anteriormente.

Como a decisão de Gilmar repercutiu entre os líderes do Centrão?

decisão do ministro do STF também provocou irritação entre líderes do Centrão, que reclamam da interferência do Supremo no assunto no momento em que os parlamentares usam a PEC para forçar Lula a fazer uma negociação com o Congresso.

O despacho de Gilmar se soma a uma outra insatisfação dos parlamentares, que é o julgamento do orçamento secreto na Corte. “O Supremo poderia se reunir esta semana ainda e votar o Orçamento de 2023. Se reúnem lá os 11, votam o Orçamento e estamos liberados”, ironizou Ricardo Barros.

No Senado, aliados de Bolsonaro querem usar a decisão de Gilmar Mendes para aumentar a pressão contra o STF, incluindo tentativas de abrir processos de impeachment contra ministros e limitar o poder decisório da Corte.

Fonte: Suno Noticias