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Paulo Bernardo sai das trevas para conspirar nas sombras

Paulo Bernardo sai das trevas para conspirar nas sombras

José Pedriali

A última vez que se registrou sua aparição pública foi ao lado da companheira conjugal Gleisi Hoffmann, num museu em São Petersburgo (foto), em outubro passado. Estava magro, o rosto, outrora bochechudo, macilento, mais careca do que nunca e o que sobrara de cabelo, mais branco do que nunca. Envelheceu.

Paulo Bernardo evita aparições públicas desde o final do primeiro mandato de Dilma Rousseff, que não renovou sua permanência no comando do Ministério das Comunicações. Chefiou o Ministério do Planejamento Planejamento desde o segundo ano do primeiro mandato de Lula. Foi um homem poderoso, portanto.

Nesse período, sua aparição pública mais estrepitosa foi a condução, documentada pela imprensa, para a prisão preventiva ordenada pela Operação Custo Brasil, da qual saiu por obra e graça de seu amigo Dias Toffoli, do STF. Acusação: desvio de R$ 100 milhões para o PT, ele e cúmplices resultado do contrato fraudulento com uma prestadora de serviços à custa dos proventos dos servidores federais, da ativa e aposentados.

Crime de lesa-trabalhador, portanto, imperdoável por ser praticado por um expoente do Partido (que se diz) dos Trabalhadores! Crime agravado pelo fato de que parte, mesmo que insignificante diante do volume, do dinheiro desviado tenha pagado despesas pessoais de sua companheira, senadora pelo também Partido (que se diz) dos Trabalhadores. O pagamento foi documentado pelo intermediário da transação, um advogado de Curitiba que se juntou à quadrilha.

Bernardo é réu também na Lava Jato. Responde junto com Gleisi pelo desvio de R$ 1 milhão da Petrobras para abastecer a campanha dela ao Senado. O julgamento é o primeiro da fila no STF.

E eis que uma matéria do Estadão da semana passada revelou que Bernardo saiu das trevas para conspirar nas sombras. Ao lado de Aloizio Mercadante, dará o texto final a uma paródia da Carta ao Povo Brasileiro, documento em que Lula e o PT renegavam seu passado e que os levou à conquista da Presidência, em 2002. A carta, tal qual a anterior, é a síntese do programa de governo que o PT se propõe a aplicar caso Lula volte ao Planalto.

O partido levará a candidatura dele até o fim, mesmo que Lula tenha (e terá!) sua condenação reafirmada pelo TRF na quarta-feira que vem. A decisão demonstra a insurgência do PT e de Lula contra o Estado de Direito, que estabelece o respeito à lei. E a lei determina que condenado em segunda instância inicie o cumprimento da pena e fique inabilitado eleitoralmente.

Nada mais coerente com a trajetória do PT, e dissonante de sua proposta original de promover uma cruzada sem tréguas contra a corrupção: seu líder Lula é um condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, está na iminência de ter a sentença reafirmada e é réu em (por enquanto) seis ações penais por crimes correlatos, obstrução de Justiça e tráfico de influência. Ao longo dos 13 anos e quatro meses no poder, o PT revelou-se uma organização criminosa, a mais voraz e inescrupulosa de que se tem notícia. E Lula a liderou.

A retomada do poder à revelia da lei é, portanto, uma conspiração, uma ameaça ao Estado de Direito, uma agressão ao princípio da moralidade pública e dignidade pessoal que se exige de um candidato à presidência. E a essa conspiração e seus derivados Bernardo se associa, reforçando o rol de criminosos ou acusados de crimes que compõem a cúpula do PT e a coordenação de um esforço eleitoral afrontosamente ilegal.

A minuta do programa de governo utópico (não acontecerá, pois as urnas derrotarão Lula caso ele leve em frente a afronta) foi feita por Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo indiciado há poucos dias pela Polícia Federal por usar dinheiro desviado da Petrobras em sua campanha.

Haddad estava cotado para comandar a campanha de Lula; o indiciamento o inabilita. Ele é a segunda baixa do partido para essa função. A primeira é Fernando Pimentel, governador de Minas, réu por corrupção e lavagem de dinheiro.

O companheiro de Bernardo na tarefa de elaborar o texto final do documento é Mercadante, ex-ministro de Dilma e réu por obstrução de Justiça e tráfico de influência.

E lembremos: a Carta ao Povo Brasileiro foi redigida por Antonio Palocci, ministro de Fazenda de Lula e chefe da Casa Civil de Dilma. Condenado por corrupção, acusou Lula de possuir uma conta corrente na Odebrecht, resultado de sua intermediação para facilitar os negócios da empreiteira. A empresa registrou os repasses ao ex-presidente, confirmado a acusação de Palocci. O idealizador do documento original foi José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil, condenado no mensalão e na Lava Jato. Pena, no segundo caso: 40 anos de prisão. Está em liberdade enquanto aguarda o desfecho dos recursos.

Palocci bandeou para o inimigo, pois é candidato à delação, mas Dirceu continua instigando as fileiras petistas, que o saúdam como “guerreiro do povo brasileiro”. É dele uma das provocações mais acintosas à Justiça, feita assim que o TRF marcou o julgamento do recurso de Lula. O dia do julgamento, segundo ele, será o “Dia da Revolta”, quando os petistas deverão manifestar “fúria” e “ódio”.

Feliz retorno ao covil, Bernardo.

(André Vargas, ex-presidente regional e ex-diretor nacional de Comunicação do PT, e João Vaccari Neto, tesoureiro, não puderam ser recrutados para a conspiração porque estão presos por corrupção…)