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Paulo Bernardo pediu ‘doação legal’ de R$ 500 mil para Gleisi, diz delator

Paulo Bernardo pediu 'doação legal' de R$ 500 mil para Gleisi, diz delator

O Globo

O dono da UTC, Ricardo Pessoa, afirmou em depoimento à Polícia Federal que o ex-ministro Paulo Bernardo, quando ainda respondia pela pasta de Planejamento, lhe pediu R$ 500 mil para a campanha de sua esposa, Gleisi Hoffman (PT-PR), ao Senado, em 2010. O GLOBO teve acesso ao depoimento de Pessoa, um dos delatores da Operação Lava-Jato. O empreiteiro ressalta que essa doação foi legal e não houve desconto da “conta corrente” de propina que era comandada pelo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Paulo Bernardo nega ter feito o pedido.

O depoimento faz parte do inquérito que apura a acusação de que a senadora teria recebido R$ 1 milhão para a sua campanha de 2010 com recursos desviados da Petrobras. Tanto o doleiro Alberto Youssef quanto o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmam que o dinheiro foi disponibilizado a pedido de Paulo Bernardo. Os dois divergem, porém, sobre quem teria recebido tal solicitação. Youssef diz que foi o ex-diretor da Petrobras, enquanto Paulo Roberto afirma que o pedido foi feito pelo ex-ministro ao doleiro. Youssef diz que o dinheiro foi entregue a Ernesto Kluger Rodrigues, dono de um shopping em Curitiba. Rodrigues nega ter recebido.

A PF quis ouvir Pessoa, porque a UTC foi uma das doadoras da campanha da senadora, conforme consta em registro no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O empreiteiro afirma que quem lhe pediu os recursos foi Paulo Bernardo. Ele foi ouvido em São Paulo no dia 7 de agosto.

“Que recebeu solicitação para contribuir financeiramente com a campanha de Gleisi Hoffmann ao Senado, em 2010, por parte do marido dela, Paulo Bernardo, então ministro de Estado, que acredita que a solicitação tenha sido no valor de R$ 500 mil, mas sabe que é exatamente o valor que consta no presente inquérito”, registra o termo de declarações do dono da UTC.

Pessoa diz que uma parte dos recursos foi encaminhada diretamente para a conta de campanha de Gleisi e outra destinada ao diretório nacional do PT. “Tudo a pedido de Paulo Bernardo”, ressaltou. O dono da UTC afirma que não houve doação em caixa dois, que não havia vinculação desse repasse a contratos da Petrobras e tampouco houve “abatimento” dos valores junto a Vaccari dentro da conta corrente de propina que mantinha com o tesoureiro petista. A prestação de contas da campanha de Gleisi registra recebimento de R$ 250 mil da empreiteira. Já no caso do diretório nacional do PT, há o repasse de R$ 1 milhão.

O depoimento de Pessoa contradiz as afirmações de Paulo Bernardo e da senadora no mesmo inquérito.

“Que não teve participação na arrecadação de fundos para a campanha de Gleisi Hoffmann, em 2010, seja pelas vedações legais, seja por orientação expressa do Presidente da República, no sentido de que os ministros de estados não se envolvessem diretamente nesse tipo de atividade”, afirmou Paulo Bernardo em depoimento no dia 2 de abril.

“Que Paulo Bernardo não desempenhou nenhuma atividade relacionada à captação de recursos à campanha para o Senado, tarefa que era encabeçada pela própria declarante, com o auxílio de assessores”, afirmou Gleisi em depoimento no dia 14 de abril.

A senadora foi além e afirmou que foi ela própria quem pediu a doação a Pessoa, “a quem conhecia dos tempos em que trabalhou no Mato Grosso do Sul”. Ela diz ainda ter pedido doação diretamente a Marcelo Odebrecht, dono da Odebrecht e preso na Lava-Jato. Marcelo disse em seu depoimento, no dia 18 de maio, não se recordar se recebeu pedido de Gleisi ou do marido.

Rodrigo Mudrovitsch, advogado do casal, diz que Bernardo reitera suas declarações públicas de que não fez o pedido de doação a Pessoa. O advogado destaca que Pessoa reconheceu no depoimento que a doação realizada foi legal e sem qualquer vinculação com a Petrobras.

– Não houve esse pedido do Paulo e ele já declarou isso. E o mais importante, no caso da senadora, é destacar que o depoimento de uma pessoa que tem o dever de falar a verdade reconhece que o repasse foi transparente, clara e sem qualquer vinculação a fontes ilícitas – afirmou Mudrovitsch.