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Parques para o planeta

Vinicius Lummertz

O Brasil é considerado o país mais rico em ecossistemas do planeta e o de maior variedade de flora e fauna pelo Fórum Econômico Mundial, que o aponta como o de maior potencial natural para desenvolver o turismo entre 140 nações.

Na “Condé Nast Traveller”, a revista de maior prestígio do turismo mundial, o país foi escolhido o mais belo entre os 40 mais belos do mundo. Este é um ativo único de competitividade turística, que deve se traduzir em desenvolvimento econômico e social. Qualquer outro país aproveitaria a sorte e transformaria em algo extraordinário para o seu povo e para o planeta.

O governo Temer fez movimentos explícitos nessa direção e aponta o horizonte com ações concretas como as concessões de parques nacionais, além do convênio de cooperação entre a Embratur, os ministérios do Turismo e do Meio Ambiente e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), buscando a sustentabilidade pelo turismo.

Apesar desse grande passo, uma mudança radical do quadro passaria pelo próximo processo eleitoral. Aí seria solidificado o discurso de defesa da mudança de eixo do turismo e da imagem externa do país, encaixando tudo isso na lógica econômica.

Seria possível, então, a transformação do Brasil no país dos “Parques para o planeta”. Subiríamos no ranking dos “good countries”, no qual sentamos na cadeira de número 80 entre 163 países.

Michael Porter, em “A Vantagem Competitiva das Nações”, escreveu sobre posicionamento e riqueza. Com frequência, países de muitos recursos naturais ficam para trás na história do desenvolvimento. Não se aplicam. Não têm foco. A manga cai no chão. A goiaba cai do pé. Até a jaca cai na cabeça.

O Brasil abriga muitos biomas, 25% da água do planeta e muitas áreas protegidas. Dentro delas estão 72 parques federais, centenas de parques estaduais e milhares municipais. Temos 66,3% de áreas destinadas à proteção e preservação da vegetação nativa, enquanto os EUA, por exemplo, têm 19,9%.

Nós nos colocamos na defensiva em sucessivos episódios, mesmo diante de nações cujas práticas, historicamente, deixaram muito a desejar. Deveríamos optar por uma ofensiva e nos afirmar como o grande país dos parques naturais.

Os gigantescos parques brasileiros ainda são irrelevantes no contexto de visitação global e na construção da nossa reputação de país conservacionista. Crescemos 11,5% no último ano, mas temos apenas 8,5 milhões de visitantes –ante 8 bilhões no resto do mundo.

A mudança conceitual do turismo brasileiro em direção à natureza seria um fato mundial. Isso não só geraria milhões de novos empregos, mas aumento brutal de renda e impostos, pois fomentaria os 53 setores da cadeia do turismo. É preciso atrair a iniciativa privada para o jogo e superar obstáculos ideológicos, pois há grupos dentro e fora do governo que apenas fazem o teatro do diálogo.

Como maior potência de ecoturismo, estaríamos reposicionados como um “good country”. Teríamos o apoio, sem abrir mão de nossa soberania. Passaríamos a cuidar melhor do que é nosso, educaríamos melhor novas gerações e alcançaríamos nossos interesses científicos.

Ao adotarmos o binômio turismo e natureza como política de Estado, estaríamos mostrando força e significado para o mundo. Pensar grande e atuar corajosamente são as precondições. Para quem vive reclamando da falta de perspectivas, esta é gigantesca.

Vinicius Lummertz, cientista político, preside a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo)