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Parque Nacional do Iguaçu, 80 anos. Um legado para as futuras gerações

Gilmar Piolla

Antes de tudo, é preciso reconhecer que devemos a existência do Parque Nacional do Iguaçu a gerações anteriores, que, 80 anos atrás, entenderam a importância de termos uma linha demarcatória para a expansão da fronteira agrícola e de preservarmos esse importante patrimônio natural da humanidade que temos no quintal de casa.

Se hoje o nosso parque é modelo de preservação e ao mesmo tempo de desenvolvimento sustentável do turismo, é graças à visão estratégica e ao pioneirismo de “desbravadores” como o engenheiro André Rebouças, o aviador Santos Dumont, o ex-governador Afonso Camargo e o ex-presidente Getúlio Vargas.

Muito provavelmente, o desmatamento teria se alastrado até as barrancas do Rio Iguaçu caso o parque não tivesse sido criado em 1939. Certeza que não teria sobrado de pé um palmo de mata atlântica, como aconteceu em outras regiões. Um fato relevante é que a criação do parque não impediu que as regiões oeste e sudoeste paranaense se desenvolvessem e se destacassem entre as bacias mais produtivas do país. Muito pelo contrário: a floresta exerce efeito positivo sobre o clima e o regime de chuvas da região.

Portanto, a área preservada do Parque Nacional do Iguaçu se constitui num ativo de valor incomensurável. Não só por ser exemplo de conservacionismo, de biodiversidade protegida e de impacto notável sobre a produtividade agrícola, mas também por ser modelo de desenvolvimento sustentável do turismo. A procura pelo turismo de natureza é uma tendência mundial para a próxima década. E os parques protegidos, onde espécies ameaçadas de extinção estão se reproduzindo naturalmente, como as onças-pintadas no Parque Nacional do Iguaçu, são os que vão se sobressair na preferência do público.

O Parque Nacional do Iguaçu foi o primeiro do Brasil a se abrir para o turismo em concessão dos serviços para a iniciativa privada. Movimenta a economia de Foz do Iguaçu e região trinacional. O parque consta na lista dos sítios de Patrimônio Natural Mundial da Unesco, desde 1986, e as Cataratas do Iguaçu foram eleitas uma das Novas Sete Maravilhas da Natureza, em 2011. Nossas quedas d´água impressionam turistas de todos os cantos do mundo. No entanto, quanto mais naturais e protegidas estiverem, cercadas de um ecossistema harmônico, maior valor poderão agregar ao turismo.

Mas, para que isso aconteça, devemos, a partir de agora, ser referência em gestão de parques nacionais e de patrimônio natural. Que ninguém se engane com o barulho retórico atual: a sustentabilidade é hoje um requisito indispensável para conquistar novos mercados. No turismo, principalmente. Neste sentido, sugerimos duas medidas urgentes: adoção de um sistema de mobilidade elétrica, com emissão zero, para atender ao fluxo crescente de visitantes no interior do parque, e a revitalização da Trilha das Cataratas.

O Parque Nacional do Iguaçu pode ser também modelo bem-sucedido de autossuficiência energética. O parque poderá gerar lá dentro boa parte da energia que é consumida pela estrutura de visitação. Sem impacto algum ao meio ambiente, a Usina São João poderia voltar a gerar eletricidade. Painéis solares instalados na cobertura do Centro de Visitantes também poderiam virar fonte de energia. Assim como poderia ser montada uma pequena planta de biogás para aproveitamento do esgoto e restos orgânicos do Hotel das Cataratas e do Restaurante Porto Canoas.

Por fim, acredito que o Parque Nacional do Iguaçu tem tudo para aprimorar cada vez mais o turismo de experiência e de contato com a natureza. Os benefícios à saúde dos íons negativos do ar das Cataratas do Iguaçu… Os estímulos sonoros, relaxantes e renovadores, dos sons da natureza… as caminhadas em trilhas mata adentro… os banhos de floresta… enfim, possibilidades infinitas para as atuais e futuras gerações.

Nem aqueles que, no passado, ousaram enfrentar a ira dos colonizadores imaginavam que esse parque, um dia, seria motivo de tanto orgulho!

Viva o Parque Nacional do Iguaçu!

Gilmar Piolla, jornalista, é secretário de Turismo, Indústria, Comércio e Projetos Estratégicos de Foz do Iguaçu.