Trabalho visa desde a construção de ninhos e observação da formação de casais até cuidados especiais com filhotes mais fracos
A poucos dias do início da estação reprodutiva, a equipe do Parque das Aves se mobiliza para receber os novos filhotes prestes a nascer. As aves que normalmente abrem o calendário de reprodução são os flamingos, uma das espécies de aves da qual a instituição é referência na reprodução.
A chefe da Divisão de Veterinária, Ligia Oliva, conta que a equipe que trabalha com os diversos filhotes que vão nascer no Parque das Aves é composta por veterinários, zootecnistas, biólogos e técnicos dedicados aos mais variados tipos de cuidados. No caso dos flamingos, alguns cuidados extras são necessários.
“O tipo de alimentação das aves e a manutenção do recinto, como o oferecimento de areia que os casais usam para construir seus ninhos, são muito importantes. Além disso, é necessário observar os casais que estão se formando, a construção dos ninhos e postura dos ovos; e depois o acompanhamento dos filhotes e seu desenvolvimento.”
Mas desse grupo de profissionais, uma equipe faz um trabalho muito especializado: o time da Sala de Filhotes, cujas responsabilidades vão desde a observação da formação de casais e o cuidado que os pais prestam a ovos e filhotes, além de resgatar ovos e filhotes que requeiram cuidados especiais. O manejo para receber os pequenos é complexo e visa, acima de tudo, seu conforto e bem-estar.
Confecção de ninhos artificiais
E o trabalho da equipe da Sala de Filhotes inicia bem antes que ovos ou filhotes comecem a aparecer. Nesta estação reprodutiva, a equipe está confeccionando ninhos artificiais. A bióloga Bianca Fernandes, assistente da Sala de Filhotes, realizou um levantamento para projetar três tipos diferentes de ninhos que serão utilizados para mais de 40 casais de psitacídeos (periquitos e papagaios, além de outras espécies). Os 50 ninhos propostos serão desenvolvidos pela equipe de manutenção do Parque das Aves.
E a equipe de manutenção já tem experiência na fabricação de ninhos, pois em 25 anos de história do Parque das Aves, foram eles os responsáveis pela confecção de ninhos para os animais que vivem no Parque. A experiência é tamanha que eles se aventuraram em confeccionar ninhos para aves de projetos de conservação, como o caso dos 5 ninhos que serão enviados ao Projeto Papagaio-verdadeiro para serem utilizados por casais da espécie na área onde o Projeto atua, na bacia do Rio Paraná, no Mato Grosso do Sul.
Além disso, ninhos de folhas secas, cipós e feno também são desenvolvidos para outras espécies de cracídeos (jacutingas) e tinamídeos (macucos). Espécies ameaçadas de extinção, como o cardeal-amarelo e a arara-azul-de-lear, também recebem um cuidado especial na hora da confecção dos ninhos. O do cardeal é fabricado a partir de uma vassoura de piaçava e um ninho pequeno, que é basicamente costurado dentro da vassoura. Já no caso da arara-azul-de-lear, os ninhos são confeccionados em um paredão argiloso, que reproduz o ambiente natural da espécie. Tudo para que possam se reproduzir e contribuir com a conservação de suas espécies.
Ninhos à vista
No caso da colônia de flamingos, inicialmente a equipe faz o mapeamento dos ninhos e os respectivos casais. O objetivo é monitorar quando a postura do ovo foi feita para prever a data de nascimento e identificar os pais.
Os flamingos colocam ovos próximos aos espelhos, pois o reflexo do grupo faz com que se sintam em uma grande colônia, seguros e certos de que estão protegidos contra predadores. O sr. Mário Diba, tratador responsável pelos flamingos, coloca areia adicional nesta época do ano e então os casais escolhem um local para construir seu ninho. Assim que encontram o ponto adequado, usam seu bico para puxar a areia e construir o futuro abrigo do ovo. E quanto mais alto o ninho, mais seguro para o ovo, pois evita que ele role.
Cuidando de perto
Lígia conta que quando não há o cuidado adequado com o ovo, ele é substituído por um semelhante, mas de madeira. Dessa forma, o flamingo sentado no ninho não sente falta do ovo que, ao ser retirado do recinto, é incubado artificialmente na Sala de Filhotes. “O procedimento de incubação é uma técnica que envolve controle de temperatura e umidade do ar. A incubadora é mantida a temperatura de 37° C e umidade entre 50 e 60%, além da rotação do ovo, fundamental para o crescimento correto do embrião”, diz.
Trabalho constante
Os ovos de flamingos levados para a Sala de Filhotes são cuidados pela equipe até o momento da eclosão, quando são trocados pelos ovos de madeira introduzidos no recinto para que os filhotes possam nascer na presença dos pais.
Após o nascimento do filhote, a equipe segue atuando, cuidando de indivíduos mais fracos que precisem de cuidados especiais.
“Os filhotes devem ser mantidos sempre aquecidos, já que seu sistema termorregulador ainda está em desenvolvimento. A temperatura das UTAs deve ser mantida em 36°C e gradativamente reduzida em 0,5°C por dia até que eles estejam prontos para que sejam mantidos no ambiente externo (aproximadamente 7 dias após o nascimento). Cuidados com higiene e nutrição são extremamente importantes para que os filhotes cresçam saudáveis”, diz Ligia.
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