PARA AS MAIS DE 75 MIL PROSTITUTAS BRASILEIRAS VOLTAREM
Geraldo Serathiuk
Há poucos dias atrás meu irmão Nelson, residente em Lausanne, cidade da Suíça, esteve nos visitando. Nelson que foi para o exílio em 1971, com 17 anos, fixou residência lá, depois de passar pelo Chile, França e Portugal na sua longa peregrinação causada pela ditadura militar, e há muitos anos trabalha com imigrantes de todo o mundo. Em uma conversa disse: Geraldo uma coisa mudou na Europa, antes a gente recebia muitas prostitutas brasileiras das grandes cidades, mas agora, muitas chegam do interior do Brasil.
Uma semana passou e eis que abro um jornal de circulação nacional com a manchete: "Europa tem 75 mil prostitutas brasileiras". Estimativa da Organização Internacional de Migrações (IOM), agência ligada à ONU. O número de prostitutas brasileiras é tão grande que algumas chegam a cargos de chefia em associações locais. Edna da Silva foi eleita, integrante do Comitê Executivo da Aspasie, entidade que luta pelos interesses das prostitutas em Genebra, afirma a matéria.
Foi lendo esta matéria que entendi a fala de meu irmão e a causa da crise com a Espanha. Pensei quantas mulheres brasileiras estão vivendo da prostituição no mundo? Já que temos 5 milhões de brasileiros vivendo no exterior.
Independente de sabermos os dados exatos, vale uma reflexão sobre o tema. Afinal temos que entender as causas do nosso povo ir para o primeiro mundo virar michês, prostitutas, lavadores de prato, biqueiros e executores de atividades manuais de trabalho de carga. Muitos dos quais fizeram um curso superior e não encontraram mercado de trabalho com salário digno por aqui, e com isso o país perde, porque investiu em sua formação.
Se tínhamos uma renda per capita igual a dos EUA e a outros países em 1800 e aqueles países construíram uma política industrial e de inovação tecnológica protegendo seus produtos e empresas, agregaram valor as suas economias e hoje tem renda per capita inúmeras vezes maior que a nossa e pagam melhores salários, deve servir de reflexão para compreender as causas de parte de nossa população submeter-se a trabalhar nestas condições. Política industrial que os países do primeiro mundo adotaram, como também, os tigres asiáticos e a China, que têm política de controle de entrada de capitais e não deixam empresa estrangeira entrar sem deixar o conhecimento em ciência e tecnologia sob controle dos Estados nacionais, e que alguns desinformados pensam que lá a turma do livre mercado dança livre como aqui, a ponto de perdermos o controle do fabrico dos fertilizantes.
Por isso precisamos nos convencer que para trazermos estes brasileiros de volta, para não viverem uma vida indigna e aviltante, não podemos ser apenas exportador de commodities e continuar gerando 90% dos empregos com menos de 2 salários mínimos, nos colocando muito mal na divisão internacional do trabalho, por não ter o investimento no ensino técnico e em ciência e tecnologia em valor necessário para agregar valor a nossa economia.
Não podemos continuar vivendo com um sistema tributário onde quem paga imposto é o trabalhador que usa o seu salário para pagar comida, transporte e moradia, e os grandes afortunados pagam muito pouco.
Não podemos continuar vivendo com um sistema político deformado que implantou o chamado presidencialismo de coalizão, que aprisiona o executivo nas mãos de interesses de oligarquias regionais, com um modelo de desenvolvimento para o padrão de consumo da classe média americana, sem propor um projeto de desenvolvimento de longo prazo para toda a sociedade.
Não podemos continuar vivendo com milhares de municípios sem necessidade. E assistindo denúncias de desvios, irregularidades e denúncias de nomeações e concursos públicos frios para a aprovação de parentes.
Não podemos continuar vivendo com um sistema previdenciário sem aprovar uma auditoria das aposentadorias concedidas através de acúmulos de vantagens legais, se aposentassem com vencimentos gordos, enquanto o povo vive com aposentadorias módicas com reajuste desvinculado do aumento do salário mínimo e aprisionada pelo fator previdenciário.
Não podemos continuar vivendo com os privilégios dados ao sistema financeiro estruturado durante o arbítrio, que ao invés de dar crédito ao pequeno e médio empresário e ao povo, impõe o pagamento da dívida externa e interna imoral sem auditoria e uma política cambial e de juros sem controle do Banco Central pelos trabalhadores e empresários.
Não podemos continuar vivendo com um modelo de privatizações e de concessões públicas, sem controle social e sem investimento nos órgãos de fiscalização, como o Ministério Público e Poder Judiciário, resultando em aumento de tarifas para o povo e desvios através de licitações dirigidas.
Não podemos continuar vivendo com uma lei da terceirização que precariza e coloca milhares de trabalhadores em condições subumanas de trabalho, com ganhos irrisórios, permitindo a demissão imotivada, o que levou em 2007 aproximadamente 14 milhões de trabalhadores serem contratados e 12 milhões demitidos.
Não podemos deixar de denunciar a falta de apoio à agricultura familiar, que levou a migração criminosa de milhões de pessoas para as grandes cidades, gerando uma crise urbana, com aumento de problemas sociais, desemprego e criminalidade e concentração de terra nas mãos de poucos.
Não podemos continuar vivendo com um modelo de concessões públicas dos meios de comunicação que não tem nenhuma contrapartida na formação e constituição da personalidade das nossas crianças e jovens.
Portanto se não conseguirmos fazer essas mudanças com maior rapidez continuaremos exportando michês, prostitutas, lavadores de prato, biqueiros e executores de outras atividades manuais de trabalho de carga, e nunca os traremos de volta. Pelo contrário, muitos outros irão atrás.
Geraldo Serathiuk, advogado – [email protected]
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