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Palvras de Minda-Au

do Fábio Campana

Ele lê 20, 30 livros ao mesmo tempo. Há 21 anos. Também escreve ficção durante esse período. Já finalizou oitocentos contos, três romances, duas novelas, uma peça de teatro (que será encenada por Maureen Miranda). Em 2010, Luciana Villas Boas viabilizou, pela editora Record, a sua estreia literária. Trata-se de Minda-Au, um livro de contos elogiado por Carlos Herculano Lopes (Estado de Minas), Vilma Costa (Rascunho), Bruno Zeni (Folha de S.Paulo), entre outros.

Ele, o autor, se chama Marcio Renato dos Santos. Tem 37 anos. Jornalista, é mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Paraná com dissertação sobre a obra de Newton Sampaio, o primeiro autor moderno do Paraná.

Marcio é co-autor, com José Carlos Fernandes, do livro Todo dia nunca é igual – sobre os 90 anos do jornal Gazeta do Povo. Durante 3 anos, Marcio atuou na Gazeta do Povo. Foi repórter do Caderno G, o suplemento cultural. Agora, foi escalado para decidir quais autores serão publicados pelo selo Tulipas Negras Editora, a mais nova casa editorial do Brasil, que estreia dia 25 de fevereiro em Curitiba. Confira, a seguir, um bate-papo com Marcio, que mantém o blog minda-au.blogspot.com

Que tal participar do projeto Tulipas Negras Editora?
É uma delícia. Estreei na ficção em 2010, com o livro de contos Minda-Au, publicado pela Record, a maior editora do Brasil e da América Latina. Escrevo ficção há 21 anos, leio e escrevo todo dia, e Minda-Au é um reflexo dessa dedicação. O livro obteve repercussão e me proporcionou visibilidade. Carlos Herculano Lopes (Estado de Minas), Vilma Costa (Rascunho), Bruno Zeni (Folha de S.Paulo) e Luiz Paulo Faccioli (BandNews Porto Alegre) leram e comentaram o livro. Todas as resenhas estão disponíveis no meu blog, o minda-au.blogspot.com. Ter sido publicado por uma das maiores editoras do mundo, é óbvio, me proporcionou tudo, tudo de bom.

Mas, em seguida, você radicalizou e lançou um segundo livro dentro de um túnel curitibano, não é mesmo?
Radicalizar? Não sou desses homens. Apenas segui a onda que surgiu. Conheci, ano passado, o Marciel Conrado, um artista visual que havia sido contemplado com um edital da Fundação Cultural de Curitiba para pintar a passagem subterrânea do Terminal Hauer. Ele estava a fim de publicar um cartaz. Conversando surgiu a ideia de viabilizar um livro e assim surgiu Você tem à disposição todas as cores, mas pode escolher o azul. É um conto meu que estava pronto e imprimimos para a inauguração da passagem subterrânea. Foram impressos 1 mil exemplares, que distribuímos dia 15 de dezembro de 2011. O fato é que o projeto vingou. Percebi que distribuir livros é o maior barato, literalmente. As pessoas querem ler. Se você doar, um livro, é certo: todos vão ler.

Foi a partir dessa experiência que surgiu o selo Tulipas Negras?
Ano passado uma empresária portuguesa, que mora no Rio de Janeiro, me procurou. Ela leu Minda-Au e ficou apaixonada pela minha ficção. Queria bancar um livro meu. Sugeri que ela apostasse, além de mim, em outros três autores. Dessa conversa nasceu o selo Tulipas Negras Editora. Ela pagou a impressão de quatro impressos, cada um com um conto de quatro autores. Vamos para a escalação: o Renan Machado entrou com Helena; o Cristiano Castilho com Compressa; o Fábio Campana com Pantera; eu, com 934.

Então você é o curador?
Exatamente. A empresária me delegou essa função. Como ela gostou, demais, do que escrevo, e percebeu que sou um leitor que, há 21 anos, lê todos os dias, continuamente, pelo menos 30 livros ao mesmo tempo; portanto, sou um sujeito que conhece ficção, ela decidiu que vou escolher os autores que serão publicados pelo selo Tulipas Negras Editora.

Mas qual o objetivo da Tulipas Negras Editora?
Viabilizar o fluxo da ficção contemporânea. Nossa investidora sempre teve interesse em publicar literatura. No dia 25 de fevereiro, serão distribuídos, gratuitamente, quatro mil livros, mil de cada um dos autores da fornada inicial.

Mas que tipo de livros são esses?
Não são brochuras. São impressos. O que importa é que esse projeto questiona o que é um livro. E-book é livro? Não sei. Livro é o quê? Aquilo que você ouviu falar que é livro? As publicações da Tulipas Negras Editora são diferentes, e são gratuitas.

Por que você escolheu publicar o Fábio Campana, o Renan Machado e o Cristiano Castilho?
Bom, gostaria de dizer que, além de autor, fui indicado como curador, ou editor. Escolhi os autores que considero relevantes. O Fábio Campana é um dos mais instigantes autores da ficção brasileira. Pena que muita gente, em Curitiba, insista em ver, nele, apenas o jornalista. E olhe que ele é um dos melhores jornalistas do Brasil. Mas, no que diz respeito ao Fábio Campana escritor, ele escreveu alguns dos romances mais brilhantes de nossa ficção. Basta ler O Guardador de Fantasmas e Ai. O melhor livro que li em 2011, e li mais de 300 livros ano passado, é A árvores de Isaías, o livro de crônicas do Campana. O Campana é tão bom como o Reinaldo Moraes, o Marcelo Mirisola e o Bráulio Mantovani, os nossos melhores autores contemporâneos. O Cristiano Castilho é um gênio. E o Renan Machado é outro gênio.