da Folha
Um relatório da Polícia Federal sugere que o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, indicou, em novembro do ano passado, o principal executivo do laboratório Labogen, de propriedade do doleiro Alberto Youssef. O executivo, Marcus Cezar Ferreira de Moura, havia trabalhado com Padilha na coordenação de eventos no Ministério da Saúde.
Um mês depois da indicação, o ministério firmou uma parceria com a Labogen para produzir um medicamento pelo qual o laboratório receberia R$ 31 milhões em cinco anos. A parceria envolvia também a EMS, empresa farmacêutica que faturou 5,8 bilhões em 2012, e o laboratório da Marinha.
O ministério cancelou a parceria depois que a Folha mostrou que o doleiro tinha participação no negócio. A Labogen também foi usada pelo doleiro para fazer remessas de dólares ao exterior, segundo a acusação do Ministério Público Federal, aceita na quarta-feira (23) pela Justiça Federal do Paraná.
O relatório da PF cita também que o doleiro tinha relações com outros dois deputados petistas. Cândido Vaccarezza e Vicente Cândido, ambos de São Paulo. O deputado André Vargas (PT-PR) chegou a participar de uma reunião com Vaccarezza, em Brasília, na qual o doleiro era aguardado.
Cândido é citado no episódio em que deputado e o doleiro buscam recursos em São Bernardo do Campo (SP). A tentativa fracassou, segundo mensagem de texto interceptadas pela PF.
Preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, Youssef é suspeito de comandar mega esquema de lavagem de dinheiro com ramificações políticas ena Petrobras. O relacionamento com o doleiro já teve consequências para Vargas, que renunciou ao cargo de vice-presidência da Câmara, sofre pressão do próprio partido para renunciar ao mandato e está ameaçado de expulsão da sigla.
Vargas começou a cair em desgraça na cúpula do partido após a Folha revelarque ele usou um jatinho emprestado pelo doleiro Alberto Youssef.
OUTRO LADO
O ex-ministro Alexandre Padilha disse em nota não ter indicado “nenhuma pessoa para a Labogen” e afirmou repudiar o envolvimento do seu nome na investigação da PF.
Na nota, Padilha diz que a busca por um executivo “que não levantasse suspeitas das autoridades fiscalizadoras”, como diz o relatório da PF, mostra que o doleiro estava preocupado com “filtros e mecanismos de controle” que ele criou no ministério, “justamente para evitar ações deste tipo”.
O deputado federal Cândido Vacarezza (PT-SP) afirmou que não pode “negar peremptoriamente” que o doleiro Alberto Youssef tenha passado pela casa dele, pois o deputado federal André Vargas é vizinho dele em Brasília.
“Não me recordo, mas ele [Youssef] até pode ter ir ido à minha casa com o André, que é meu vizinho”, disse.
O deputado federal disse porém que a casa dele não foi o local de nenhuma reunião com Youssef ou o empresário Pedro Paulo Leoni Ramos.
Vacarezza disse que conhece Ramos há cerca de sete anos, mas não mantém contatos como o empresário.
O deputado federal Vicente Candido diz ter conhecido o doleiro Alberto Youssef em viagem a Cuba, em 2008 ou 2009. Tiveram um segundo encontro, segundo ele, no qual o doleiro pediu ajuda num processo tributário.
Sobre os negócios que buscavam em São Bernardo, afirma: “É preciso ver com o André Vargas do que se trata. Eu não me lembro disso”.
Procurados pela Folha, Vargas, Leoni Ramos, o executivo Marcus Cezar Ferreira de Moura e o Funcef não quiseram se pronunciar.
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