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Ouça Gary Clark Jr, o cara que vai abrir os shows de Eric Clapton no Brasil

Em Austin, 3 de maio é dia de Gary Clark Jr. Em 2001, o prefeito da cidade localizada no Texas, ao sul dos Estados Unidos, decidiu que aquele jovem bluesman – à época com apenas 17 anos – merecia uma data para chamar de sua. O músico ganhou a homenagem por conta de uma apresentação que fez, mas não sabe dizer se alguém ainda se lembra disso. “Há muitos caras bons por lá”, ele explica. O fato é que hoje, uma década depois, ídolo na terra onde nasceu e se criou, o guitarrista também é visto como um dos mais promissores talentos do blues mundial.

Além dos prêmios locais que já ganhou (como melhor guitarrista de blues no Austin Music Award, por exemplo), Clark Jr. vem expandindo suas conquistas. Participou de shows com Jimmie Vaughan – irmão do lendário Stevie Ray Vaughan, morto tragicamente em um acidente de helicóptero em 1990 – e Pinetop Perkins, o pianista do Mississippi que morreu recentemente, aos 97 anos.

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O feito mais recente e memorável do texano foi a aparição no cultuado Crossroads Guitar Festival, em 2010, em que participaram ídolos como B.B. King, Buddy Guy, Robert Cray, Jeff Beck e vários outros. “Foi meio irreal. Estar no mesmo palco que eles é demais”, conta Clark Jr., em entrevista ao Estado.

Daqui a uma semana, o músico de 27 anos dará outro grande passo. Pela primeira vez em terras brasileiras, ele fará os shows de abertura das apresentações de Eric Clapton, no Rio e em São Paulo. “Nunca tive uma experiência assim. Eu estava pensando nisso e comecei a ficar nervoso”, diz.

Gary Clark Jr. começou cedo. Aos 12 anos, quando ganhou sua primeira guitarra, foi logo se aventurar com outros garotos, espiando as jam sessions de blues que ocorriam na cidade. Com o passar dos anos, ainda durante os tempos de escola, passou a frequentar mais jams e a descobrir lugares onde poderia se apresentar. “Eu era um adolescente, nem dirigir podia. Meu pai que me levava e buscava dos bares”, lembra o artista, que aprendeu a tocar sozinho, com base em livros e em músicas que escutava nos discos que compartilhava com o pessoal do colégio.

Dentre os pubs que encontrou em Austin, um deles é velho conhecido do pessoal do blues. Fundado em 1975 por Clifford Antone, o Antone’s fica em uma esquina da cidade e, mesmo depois da morte de seu criador, em 2006, continua na ativa.

Versátil, o guitarrista sabe fundamentos de gaita, bateria, leva jeito com o baixo e diz tocar teclado e piano “pior do que gostaria”. A abrangência de instrumentos que domina é refletida no seu gosto. “Acho que sempre dá para aprender alguma coisa do trabalho dos outros”, explica Clark, que diz ouvir Miles Davis e Booker T. & the MGs mas também lançamentos recentes e o grunge da década de 90 – o Nirvana, por exemplo, é uma das lembranças de sua adolescência. Em 2007, trocou temporariamente de função. Com jeito de galã, Gary Clark Jr. atuou no filme de John Sayles, Honeydripper, que conta histórias de blueseiros do sul dos EUA. Mesmo tendo achado o processo interessante, o bluesman está em outra. Depois do disco Worry no More (2008), o músico lançou dois EPs, Gary Clark Jr (2010) e Bright Lights, em agosto deste ano. Das quatro faixas do último lançamento, metade é executada com banda. Guitarras distorcidas e uma voz vibrante revelam o seu lado rock’n’roll. As outras duas, acústicas, que ele toca sozinho, mostram a influência do soul, como é o caso em “Things Are Changing”, uma balada mais romântica e pop.

A ideia de ser considerado um ‘salvador do blues’ é algo que prefere não exaltar. “Apesar de eu ficar feliz, tudo o que eu espero é fazer um trabalho respeitável.”