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Os rejeitados

Se ainda não há um franco favorito para ocupar o Palácio do Planalto, a maioria dos brasileiros indica com bastante clareza, à luz dos números revelados pelo Ibope, aqueles que não querem ter como governante de jeito nenhum

Editorial, Estadão

A mais recente pesquisa Ibope, encomendada pelo Estado e pela TV Globo, divulgada na quarta-feira passada, mostrou que segue francamente aberta a disputa pela Presidência da República. Porém, se ainda não há um franco favorito para ocupar o Palácio do Planalto a partir de janeiro de 2019, a maioria dos brasileiros indica com bastante clareza, à luz dos números revelados pelo Ibope, aqueles que não querem ter como governante de jeito nenhum.

Desde 20 de agosto, quando o instituto de pesquisa divulgou seu levantamento anterior, a rejeição às candidaturas de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) cresceu 7 pontos porcentuais. É necessário registrar que a candidatura do ex-prefeito de São Paulo é uma possibilidade, visto que seu partido não o confirmou como cabeça de chapa. Por determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PT tem até o dia 11 deste mês para substituir Lula da Silva, que foi declarado inelegível por ter sido condenado em segunda instância a pena de 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Além disso, as próximas pesquisas, que certamente captarão o impacto do atentado de quinta-feira contra o candidato do PSL sobre a opinião do eleitorado, poderão trazer dados diferentes.

O que as pesquisas já conhecidas mostram é que, em agosto, a rejeição a Bolsonaro era de 37%. Agora, ele segue na liderança dos rejeitados com 44%, porcentual que representa o dobro das intenções de voto no candidato do PSL registradas pela nova pesquisa Ibope (22%). Ou seja, para cada eleitor que manifesta intenção de voto em Bolsonaro, há dois que afirmam não votar nele “de jeito nenhum” em uma eventual disputa no segundo turno.

Também cresceu 7 pontos a rejeição ao provável candidato do PT. Em 20 de agosto, 16% dos entrevistados disseram não votar em Haddad “de jeito nenhum”. Àquela época, Lula da Silva ainda não havia sido declarado inelegível, embora seu status jurídico-penal, de acordo com a Lei da Ficha Limpa, fosse de uma clareza solar. Confirmada sua inelegibilidade pelo TSE e, portanto, a imposição de troca da cabeça de chapa do PT, o porcentual de rejeição a Haddad, o mais cotado para substituir Lula, atingiu 23%.

É compreensível a aversão manifestada por uma parcela significativa de brasileiros tanto a um como a outro. Um eventual triunfo eleitoral do petismo ou do bolsonarismo representaria o acirramento das fissuras que há muito tempo têm exaurido a sociedade brasileira, cindida a ponto de praticamente inexistir um debate saudável e propositivo sobre as soluções para os desafios do País sem que a conversa desvie para o sombrio caminho da animosidade, da intolerância e do preconceito. Nada de bom há de sair de um ambiente assim.

Por mais que o PT trabalhe para tentar esconder os resultados dos desatinos políticos e econômicos de Dilma Rousseff na Presidência da República, eles estão bastante presentes na memória dos brasileiros que não se seduzem por enganosas peças publicitárias e fazem a devida associação entre as consequências e suas causas. O sequestro do debate político-eleitoral pelos interesses mesquinhos de um presidiário condenado também não passa em branco diante dos olhos dos eleitores que não estão cegados pela fé na seita de Lula da Silva. É fardo pesado demais a ser carregado por quem quer que represente uma eventual volta do PT ao poder central.

As posições extremadas de Bolsonaro e seu manifesto despreparo para dar conta dos problemas que estarão sobre a mesa do próximo presidente da República, cada vez mais evidente à medida que o ex-capitão ocupa espaço na imprensa, ajudam a compreender o seu alto índice de rejeição, o maior entre todos os candidatos à Presidência. O número indica que Bolsonaro pode ter atingido o teto de seu patamar eleitoral. A ver o efeito do atentado contra ele na opinião do eleitorado.

O que parece claro é que a maioria dos brasileiros sabe exatamente o que não quer a partir do ano que vem. Indica rejeitar um governo antidemocrático, populista e irresponsável. Um chamado à união nacional. É um bom começo.