Para uma revolução educacional, é preciso eleger prioridades
Editorial, Estadão
Dados divulgados pelo Ministério do Trabalho às vésperas do início da Olimpíada do Conhecimento de 2018 dão a dimensão da importância desse evento, que terá a presença de 40 mil pessoas – a maioria constituída por adolescentes e jovens – e apresentará as tendências do mundo do trabalho e as tecnologias que determinarão o currículo das chamadas “escolas do futuro”. O objetivo é estimular esses adolescentes e jovens a desenvolver habilidades e competências matemáticas e científicas para lidar com a Indústria 4.0.
Também conhecido como Manufatura Avançada, a Indústria 4.0 é um conceito de indústria que engloba inovações tecnológicas dos campos de automação e sistemas de informação em tempo real ao processo industrial. Apresentado pela primeira vez na Feira de Hannover, em 2011, esse conceito surgiu a partir de projetos de desenvolvimento tecnológico elaborados pelo governo alemão e foi um dos temas mais discutidos no último Fórum Econômico Mundial.
Segundo o Ministério do Trabalho, apenas 10% dos brasileiros na faixa etária até os 17 anos recebem educação profissionalizante, tendo condições assim de acompanhar a revolução que a Indústria 4.0 vem causando. No Japão, na Finlândia e na Áustria, o índice varia de 70% a 76% da população jovem. Os números mostram as dificuldades enfrentadas pelo Brasil para formar capital humano, condição indispensável para a passagem a níveis mais sofisticados de produção e para a ocupação de espaços cada vez maiores no mercado mundial. Também revelam que o País continua incapaz de formar mão de obra tão produtiva e tão adaptável quanto a de outras economias emergentes.
Mais grave ainda, as falhas estruturais na preparação e qualificação técnica das novas gerações, a fim de que possam atuar em modos de produção diferentes dos atuais, continuam sendo um dos principais obstáculos para a implantação, no País, de sistemas industriais inteligentes, capazes de conectar máquinas, ajustar automaticamente a produção à demanda, agendar manutenções e prever falhas nos processos. “No domínio das tecnologias 4.0, é preciso mudar a matriz, ver a educação como fator principal da competitividade”, afirma Rafael Lucchesi, diretor do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), que é uma das patrocinadoras da Olimpíada do Conhecimento, juntamente com o Serviço Social da Indústria (Sesi).
Num período de constantes e rápidas transformações tecnológicas, em que algumas profissões vão sendo extintas e outras vão surgindo, exigindo modos de formação e treinamento novos e sem a obrigatoriedade de curso superior, chegou a hora de rever o sistema educacional. Mais precisamente, chegou a hora de tomar consciência de que, em várias áreas do conhecimento, um ensino técnico de qualidade oferece às novas gerações melhores oportunidades profissionais do que as propiciadas pelo ensino superior tradicional. Segundo o Ministério do Trabalho, técnicos de áreas como eletromecânica, química e energia ganham R$ 7,2 mil por mês, em média, com apenas um ano de experiência no mercado de trabalho. É um salário superior ao de áreas que exigem diploma universitário, como jornalismo, comunicação, sociologia e economia.
Durante a Olimpíada do Conhecimento, serão realizadas provas para selecionar os estudantes brasileiros que participarão do WorldSkills, uma competição mundial de competências técnicas que será realizada na Rússia, em 2019. Na competição de 2015, a delegação brasileira ficou em 1.° lugar. Isso mostra o potencial das novas gerações de brasileiros. Mas, para que elas possam se desenvolver, contribuindo para a modernização econômica e social do País, é preciso que lhes seja oferecida uma educação que as capacite para as novas profissões. E isso exige que, em vez de iniciativas tomadas a esmo, sem coerência e sem pertinência, as autoridades educacionais concentrem-se na definição das prioridades que podem assegurar a tão necessária, mas postergada, revolução educacional.
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