Em seu primeiro ano na vida pública, o senador Oriovisto Guimarães (Podemos) buscou se lançar nos debates sobre os grandes temas do país. Ao defender a manutenção da prisão em segunda instância, diz ter conseguido notar quem são os políticos sérios e quem são os que fazem da política “a arte de enganar o povo”. Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo ele conta impressões de sua estreia na vida pública e tece análises sobre o governo do presidente Jair Bolsonaro. As informações são de João Frey, Gazeta do Povo.
Depois de tantos anos na iniciativa privada, como foi este primeiro ano na política? Como foi o confronto das expectativas com a realidade?
Minhas expectativas com relação ao Senado eram de poder ajudar a transformar a cara do Brasil: de fazer um país mais racional, mais simples, com um sistema eleitoral mais simples, menos partidos, com uma justiça mais rápida, tributos mais simples de serem recolhidos e uma Previdência que fosse viável. Vim com o intuito de fazer as grandes reformas que o Brasil precisa há tantos anos e que nunca foram feitas.
O que descobri nesse primeiro ano é que existem dois tipos de políticos: os honestos, sinceros, que querem pensar no todo, no país; e os políticos que fazem da política a verdadeira arte de enganar o povo. Eles não têm coragem de enfrentar certas questões e mentem descaradamente para a população, jogam um jogo muito sujo.
Em quais pautas o senhor vai concentrar esforços em 2020?
Na discussão final da PEC Emergencial [da qual Oriovisto é relator]; o Pacto Federativo; a PEC dos Fundos. Tudo isso, somado a uma cultura de responsabilidade fiscal deve dar um impulso à economia brasileira.
Além disso, eu, particularmente, quero propor uma legislação eleitoral diferente dessa que nós temos. É um absurdo. Aprovamos agora o 31º partido do país. Isso só existe por causa desse escandaloso Fundo Eleitoral. E tem um escândalo aí: desses R$ 2,3 bilhões do fundão, R$ 1,7 bilhão já tem uma autorização para o governo tomar dinheiro emprestado para colocar no fundo. O governo emite títulos e aumenta a dívida interna para financiar campanha.
Qual sua avaliação do primeiro ano do governo Bolsonaro?
Eu acho que o governo tem grandes qualidades e tem defeitos. Ministros que vejo como muito bons: Paulo Guedes; Sérgio Moro – que claramente já conseguiu uma redução significativa da criminalidade no país – e outros ministros muito bons, como o ministro da Infraestrutura [Tarcísio Freitas].
Agora qual o lado triste? Num primeiro momento eu acho que ele se descuidou um pouco e deixou os três meninos [os filhos Carlos, Flávio e Eduardo] falarem um pouco demais. A tentativa de nomear um deles embaixador nos Estados Unidos era uma coisa que não precisava ter existido – graças a Deus ele desistiu. Aquela declaração de que ia mudar a embaixada do Brasil em Israel não precisava ter existido. Aqueles impropérios todos contra a esposa do Macron também não precisava ter existido. A postura dele em relação ao meio ambiente também é infeliz. O primeiro ministro da Educação [Vélez Rodriguez] foi triste, o segundo [Abraham Weintraub] deixa a desejar.
O senhor chega ao Congresso em um momento em que muitos dizem ser de mudança. Há isso de fato? Qual a direção dessa mudança?
Nós temos hoje o grupo “Muda Senado”, do qual faço parte desde o começo. O grupo se formou naturalmente, um encontro de senadores que embora pertencendo a partidos distintos têm a mesma vontade e o mesmo pensamento. E esse não é um grupo composto só por senadores novatos, não. Alvaro Dias e Lasier Martins estão aqui há muito tempo e estão nesse grupo. Eles se sentiam sozinhos aqui e agora têm companhia. Temos esse grupo de 20 senadores que querem mudar o Senado e estão preocupados com o país[…]
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