Metade dos políticos sob investigação da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ) declarou ter recebido, no ano passado, doações de empreiteiras suspeitas de participar do esquema de corrupção na Petrobras. Dos 52 investigados nos tribunais superiores, 26 foram financiados, em alguma medida, por oito empresas do chamado “clube do bilhão”.
Os repasses feitos por elas chegam a R$ 17,6 milhões, segundo levantamento do Congresso em Foco nos registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A grande maioria deles se deu bem nas ruas: 19 conseguiram se eleger ou renovar o mandato. Entre eles, os dois governadores sob investigação no STJ, Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ) e Tião Viana (PT-AC), e o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), último nome incluído na relação dos investigados. As informações são do Congresso em Foco.
As doações foram feitas por empresas dos grupos Andrade Gutierrez, Camargo Correa, Engevix, Galvão Engenharia, Queiroz Galvão, OAS, Odebrecht e UTC. Dessas, apenas a Camargo Correa admitiu, por meio de executivos que colaboram com a Justiça em troca da redução da pena, ter pagado propina em troca de contratos na Petrobras. Assim como os políticos, as empreiteiras alegam que as doações foram legais e não caracterizam suborno.
Maiores doações
Os maiores repasses foram feitos a três senadores que disputaram sem sucesso o governo de seus estados: Lindbergh Farias (PT-RJ), Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Benedito de Lira (PP-AL). O PT e o PP foram os principais beneficiários das empresas investigadas nas eleições. O primeiro, em valores, e o segundo, em número de financiados.
Os seis petistas beneficiados declararam R$ 7,7 milhões em contribuições oficiais das construtoras. Quarto colocado na disputa ao governo do Rio de Janeiro, Lindbergh Farias informou ter recebido R$ 3,8 milhões da Queiroz Galvão, da UTC e da OAS. Gleisi Hoffmann, que ficou na terceira posição na corrida ao governo paranaense, declarou repasses de R$ 2,8 milhões dos grupos Andrade Gutierrez, UTC, Queiroz Galvão e Galvão Engenharia. Reeleito governador do Acre, Tião Viana atribuiu à OAS R$ 15 mil dos R$ 194 mil que disse ter arrecadado para sua reeleição.
Dos 32 integrantes do PP sob investigação na Lava Jato, 15 declararam ter recebido, ao todo, R$ 6,2 milhões do “clube do bilhão”. É o segundo maior montante entre as legendas. Segundo colocado na disputa ao governo de Alagoas, Benedito de Lira recebeu R$ 1,8 milhão dos grupos Galvão Engenharia, da Odebrecht, da Queiroz Galvão e da OAS. Acusado de ter utilizado recursos do esquema para chegar a liderança da bancada, o deputado Nelson Meurer (PP-PR) declarou ter sido financiado em R$ 1,1 milhão pela Galvão Engenharia.
Os demais partidos com políticos sob investigação na Lava Jato (PMDB, PSDB, PSB, SD e PTB) têm apenas um nome entre os financiados pelas empreiteiras. O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, é o representante peemedebista: informou ter arrecadado R$ 1,5 milhão da OAS e da Queiroz Galvão.
Único tucano entre os investigados da operação no STF, o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) recebeu R$ 1 milhão de cinco empreiteiras sob apuração: Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez, Odebrecht, OAS e UTC. Reeleito para mais oito anos de mandato no Senado, o ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) declarou R$ 175 mil em repasses da OAS e da UTC.
Preso no último dia 10 pela Polícia Federal, na 11ª fase da Lava Jato, o ex-deputado Luiz Argôlo (BA), que acaba de deixar o Solidariedade, informou ter sido contemplado com R$ 150 mil da UTC em sua fracassada tentativa de se reeleger mesmo sendo alvo, à época da disputa, de processo de cassação no Conselho de Ética.
Último nome incluído entre os investigados no STF, o senador Fernando Bezerra Coelho teve doações no valor de R$ 850 mil da UTC, da Odebrecht e da Andrade Gutierrez. Em depoimento de delação premiada, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disse que Bezerra, então secretário de Desenvolvimento de Pernambuco e diretor do Porto de Suape, em 2010, pediu R$ 20 milhões para a campanha do ex-governador Eduardo Campos, morto no ano passado durante as eleições presidenciais. O senador nega participação no esquema.
Cinco vezes
Como mostrou o Congresso em Foco, as empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato alavancaram em cinco vezes o valor de suas doações oficiais a campanhas políticas entre 2002 e 2014. Um salto que supera de longe o crescimento do custo das eleições no mesmo período, que foi de três vezes. Foram mais de R$ 1,1 bilhão (em valores atualizados pelo IPCA/IBGE) destinados a campanhas eleitorais no intervalo de 12 anos, apenas nas eleições para presidente, governador, senador e deputado.
No ano passado, quando já estava sob a mira do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, o chamado “clube do bilhão” repassou R$ 438 milhões para campanhas eleitorais, segundo levantamento do Congresso em Foco baseado em dados do TSE.
Apenas nas duas últimas eleições gerais, quando foram registrados os maiores repasses, as construtoras investigadas destinaram recursos para 28 dos 32 partidos registrados no Brasil. Dos R$ 930 milhões (em valores corrigidos pelo IPCA) transferidos em 2010 e 2014 a essas empresas, R$ 660 milhões bancaram candidatos do PT, do PSDB e do PMDB.
Os dados se referem às doações registradas na Justiça eleitoral por empresas apontadas pelo Ministério Público Federal como integrantes do ‘cartel’ formado, segundo os investigadores, para fraudar licitações, corromper agentes públicos e desviar recursos da Petrobras, entre 2004 e 2012. Com exceção da Camargo Corrêa e da Toyo Setal, cujos executivos fizeram acordo de delação premiada, as outras 14 suspeitas negam participação no esquema. Todas argumentam que as doações eleitorais foram legais.
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