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Ogrobol: um jogo sem frescuras

Albari Rosa / Gazeta do Povo / Ogrobol no pátio da Reitoria: fazer gol de cabeça é quase impossível, mas vale dois pontos

Jônatas Dias Lima
Gazeta do Povo

Nascido no pátio da Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o ogrobol virou um símbolo dos estudantes daquele câmpus. O jogo com nome que remete ao monstro de contos de fadas é uma tradição acadêmica que resiste ao tempo e desperta o interesse de curiosos que passam pela Rua Amintas de Barros, no centro de Curitiba.

Talvez o que mais chame a atenção não sejam as regras em si, mas sim a escassez delas. No ogrobol não existe falta, o que já concede ao jogo uma identidade especial. “Ele tem esse nome porque o pessoal se empurra o tempo todo, parece um bando de ogros”, diz Heloíse Picket, 19 anos, estudante do curso de Design na UFPR. Embora o esporte seja liberado para mulheres, ela nunca jogou, mas já viu algumas de suas colegas se aventurarem nas partidas.

Outra versão que remete à origem do nome seria a diferença de tamanho entre os jogadores e a bola de tênis usada como bola de futebol pelos “ogros”. O motivo dessa substituição também é histórico. Segundo o formando em Ciências Sociais William Weber, 43 anos, veterano no jogo, tudo começou no início da década de 90, quando estudantes da Reitoria passaram a usar o pátio para jogar futebol. “Como às vezes alguma janela era quebrada, a Reitoria e os alunos fizeram um acordo e definiram que só poderiam ser usadas bolas bem pequenas”, explica.

Para acompanhar a adaptação, as traves, antes improvisadas com mochilas, ganharam versões fixas feitas de PVC, chegando apenas até a altura dos joelhos. Outra mudança que ajudou foi a disposição da quadra na diagonal em relação às janelas, o que diminui o risco das vidraças quebrarem. As duas quadras disponíveis, aliás, são originalmente de vôlei, mas o ogrobol foi flexível o bastante para transformar as marcações no chão a seu favor, definindo a área do gol e o local de onde se cobram pênaltis.

São três jogadores para cada lado e a duração do jogo varia conforme a necessidade. “Se tem time esperando para entrar, aí vai até dois gols. Do contrário, a gente vai jogando até cansar”, explica Weber.

Outra especificidade que merece destaque é o gol de cabeça. Por ser muito difícil alguém acertar um, devido à altura da trave, quando ocorre vale dois gols. A possibilidade de salvar a bola mesmo longe da quadra também rende cenas emocionantes. Só se considera que a bola realmente saiu de jogo quando ela quica fora dos limites da quadra. Isso significa que quando ela sobe e vai para a calçada, por exemplo, é válido correr e fazê-la voltar para o campo.

Segundo o aluno Eduardo Bezerra, do curso de História, além de ser divertido, o ogrobol ajuda a enturmar os recém-chegados. “Faz a gente se sentir mais UFPR”, brinca.