Gregorio Duvivier
A última coluna que escrevi falava sobre a falta de opções do eleitor carioca: todos os principais candidatos ao governo do Estado estão sendo julgados por crimes de corrupção. Muita gente me escreveu dizendo que o “Brasil não tem jeito” e que também está louco para sair daqui. Queria escrever pra essas pessoas e dizer que eu não pretendo sair daqui tão cedo.
A democracia, entre muitos presentes, nos deu este: a gente pode falar mal do Brasil à vontade. Já faz quase 30 anos que a gente pode. Mas parece que a gente só faz isso da vida.
A melhor maneira de não incomodar ninguém é falar mal de todo o mundo. Se eu disser que todos os políticos são corruptos, todo o mundo adora -inclusive, e principalmente, os corruptos, que estão sendo colocados no mesmo saco dos honestos. O discurso do “ninguém presta” parece o discurso mais corajoso do mundo, mas é o mais chapa-branca.
Ninguém se cansa de repetir: “o Brasil não tem jeito”, “a corrupção no Brasil é endêmica”, “brasileiro não aprende”, “o problema do Brasil é o brasileiro”. Tudo isso é dito, claro, por brasileiros. Repare que não dizemos: nosso problema somos nós mesmos. Não. O problema do Brasil são os outros, diria Sartre, se fizesse vlogs.
Nunca vi alguém dizer: o problema do Brasil sou eu, que como carne, ando de carro, não reciclo o meu lixo, recebo dinheiro como pessoa jurídica e não lembro em quem votei pra vereador. A culpa é minha, pessoal. Em minha defesa, estou tentando mudar.
Outro dia um autoproclamado filósofo brasileiro que mora nos EUA vociferou: “O povo brasileiro é o povo mais covarde, imbecil e subserviente do universo”. E muita gente (brasileira) aplaudiu, provando que talvez ele estivesse certo -mas única e exclusivamente em relação aos seus leitores. Não sei qual é a solução para os nossos problemas, mas se mudar pra Veneza ou pra Virginia certamente não é.
Quantas vezes você já não ouviu a frase: “É por isso que o Brasil não vai pra frente”? Independentemente da razão do nosso atraso, essa frase é uma mentira. Mesmo o crítico mais contumaz do governo (governo este do qual não sou eleitor nem fã) há de concordar que o Brasil vai pra frente, sim. Devagar, aos trancos e barrancos, algumas vezes à revelia do governo -mas vai pra frente. Em contrapartida, nossos intelectuais estão ficando pra trás.
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