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O voo do besouro

Ademar Traiano

A candidatura a presidente da República de Geraldo Alckmin (PSDB) ganhou, de súbito, espaço e ênfase no noticiário político. Com a aliança que costurou com 5 partidos de centro ele é o fato novo. Obrigou setores da crônica política a deixar de lado uma evidente má vontade e a colocar sua candidatura com o destaque merecido.

Alckmin ganha, com a aliança, o protagonismo que sempre deveria ter sido seu. Tanto pelo peso político do PSDB quanto pela sua biografia. Para começar, já governou quatro vezes o estado de São Paulo, que tem 45 milhões de habitantes e PIB maior que o da Argentina. Governos bem-sucedidos e aprovados.

Como administrador, Alckmin tem bons resultados para mostrar em setores cruciais, que hoje assustam os brasileiros, como os da segurança pública. Nos últimos 20 anos São Paulo registrou uma queda impressionante nos índices de violência (70% no índice de homicídios) e é hoje o estado mais seguro do Brasil.

As alianças costuradas por Alckmin, com o PP, DEM, PR, PRB e SD vão lhe garantir mais de 4 minutos e meio de tempo de propaganda política no rádio e TV. Com as alianças, terá 38% do total de espaço no horário de propaganda política. Poderá discutir propostas e expor realizações.

Junto com consciência de que Alckmin é um nome muito provável no segundo turno da eleição presidencial vieram os ataques. Não faltou quem sugerisse que teria negociado a volta recolhimento do imposto sindical como parte da articulação que lhe garantiu a aliança. O tucano colocou um ponto final nessas especulações.

“Não há hipótese de voltar o imposto sindical. A reforma trabalhista foi importante. Tínhamos uma legislação dos anos 40, autárquica, de cima para baixo. Minha meta é emprego e renda. Estimular os empreendedores. Vou baixar o imposto do empresário, para trazer mais investimentos e mais empresas”, afirmou Alckmin.

Outro argumento para tentar desacreditar a candidatura do ex-governador é enfatizar sua suposta dificuldade de conquistar usuários de redes sociais. Essa abordagem pode ser equivocada. Ele se fundamenta no perfil sereno do candidato, distante dos rompantes e faniquitos. Mas a firmeza e serenidade de Alckmin podem atrair importante parcela de usuários das redes, avessos ao radicalismo raivoso.

Aliás, a tese que as redes sociais serão decisivas nesta campanha, deve ser vista com cautela. Márcia Cavallari, diretora do Ibope, observa: “Nas pesquisas sobre as fontes de informação dos brasileiros, a TV continua aparecendo em primeiro lugar. Na hora da decisão do voto, a televisão e a internet têm o mesmo peso. Cada uma é citada por um terço dos eleitores.”

Existem outros motivos para se ver com precaução o poder das redes sociais nas campanhas políticas. Apesar de elas ganharem cada vez mais adeptos, 25% dos brasileiros não costumam acessar a internet. Isso significa que 36 milhões de eleitores vão escolher seus candidatos sem qualquer influência de postagens do Facebook ou de grupos do Whatsapp.

Mais, a internet já pode ter produzido a maior parte de sua safra de intenções de votos. “Aqueles que têm afinidade maior com a internet já foram atingidos pela campanha. O Bolsonaro já pescou muitos peixes nesse aquário. Não acho que consiga ganhar muito mais por esse canal”, afirma Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.

O ex-governador de São Paulo é uma alternativa política natural para comandar os destinos do Brasil. Curiosamente, até aqui, se fingia ignorar esse fato, insistindo que se tratava de uma postulação sem futuro. O jornalista J.R.Guzzo, de Veja, resumiu essa má vontade com muita ironia em um artigo recente. Confira:

“Desde o começo da disputa eleitoral para a sucessão do presidente Michel Temer, o candidato mais natural, lógico e viável para se contrapor às forças do ex-presidente Lula, solto ou preso, e mais a turma toda que tenta copiá-lo, tem sido o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Por uma destas esquisitices comuns à política brasileira, porém, até agora o seu nome foi o menos falado entre os 1.500 candidatos à Presidência da República, reais ou imaginários, sobreviventes ou já sepultados, que apareceram até o presente momento na campanha”.

O jornalista Elio Gaspari, por sua vez, recorre a um suposto paradoxo aerodinâmico para tentar explicar o fato que, ao contrário do que ele próprio havia prognosticado em crônicas anteriores, Alckmin é um candidato viável: “Besouro não deveria voar, mas voa. Geraldo Alckmin também”.

De fato, Alckmin voa. E pode ganhar a eleição.

Ademar Traiano é deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa e vice-presidente do PSDB do Paraná