Por Rogério Distefano, no MaxBlog:
Sebo Capricho, rua Comendador Araújo, em Curitiba. Meu amigo me ligou há pouco: “Vendeu a biblioteca?”. Não, não vendi, respondo. “Então como seus livros foram parar no sebo?”. Não sei, respondo, nunca vendi livro no sebo. Mas que livros são, pergunto? “O Traité de Droit Amministratif”, de André de Laubadère, um volume do Direito Administrativo, de Massimo Severo Giannini, a Filosofia do Direito, de Roscoe Pound”.
Esclareci ao amigo: foram roubados, estavam num depósito na casa de parentes, que me avisaram que ‘mendigos’ invadiram por três dias seguidos o depósito. Não adiantava fechar com cadeado, eles vinham e arrombavam de novo. Sabia dos aparelhos eletrônicos que levaram, não dos livros. “Acabei comprando os livros”, me disse o amigo, “você quer de volta?”. Não, não quero, não tem sentido, você pagou e comprou de boa-fé, eu respondo. (Não disse a ele que eu me sentiria obrigado a pagar-lhe o que pagou ao Sebo Capricho, pagando duas vezes os livros que comprei em dólar).
Achei estranho mendigos se interessarem por livros de Direito em francês, coleções inteiras. Comentei com o amigo. Ele responde: “O pessoal do Sebo Capricho disse que foram vendidos por um advogado velho”. Velho e receptador de livros roubados. Velho e seboso, como o Sebo Capricho, que comprou e vendeu livros roubados. Felizmente o amigo tem lá os livros com ele, meu nome gravado, páginas rabiscadas a lápis, para provar que eram meus. E o Sebo Capricho não tem recibo de que comprou os livros de mim. Não quero os livros, estão em boas mãos. Só queria saber quem é o advogado velho que compra e vende livros furtados.
Guardo a carta em que o secretário Reinaldo de Almeida César agradece a defesa que fiz dele numa notícia de jornal que lhe imputava exclusiva responsabilidade em fraude na prefeitura de Ponta Grossa – da qual no dia seguinte veio informação de que o secretário era inocente. O secretário podia deslocar o Cope para dar uma olhada no Sebo Capricho. Não é tão grave quanto o furto dos dólares de Eduardo Requião, que o Cope resolveu. Mas eu paguei aqueles livros com meu trabalho. E com o que aprendi neles prestei – e presto – bons serviços ao Estado.
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