Há considerável risco de que verba para reforma termine desperdiçada
Um tanto tardiamente, o governo federal dá passos para deixar o campo dos diagnósticos e deslanchar a reforma do ensino médio que se propôs a fazer, reservando R$ 400 milhões para auxiliar cerca de 5.000 escolas —de um total de 28,5 mil estabelecimentos— a implantá-la até 2020.
Apenas um quinto do valor será desembolsado na administração de Michel Temer (MDB); o restante ficou para o sucessor. Há considerável risco de que essa verba termine desperdiçada.
Finalista na disputa presidencial, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT) já anunciou que, se eleito, pretende revogar a reforma do ensino médio “autoritária” aprovada por Temer.
Do que pensa fazer a respeito Jair Bolsonaro (PSL) se sabe bem pouco. Como já se apontou em tantos estudos e planos educacionais, ele também deplora a alta evasão verificada nessa etapa de ensino. Com efeito, não chegam a 59% os jovens de 19 anos que obtêm esse diploma.
Como solução para a educação básica, o capitão reformado propõe “mais matemática, ciências e português, sem doutrinação e sexualização precoce”. Não chega a ser um programa pedagógico.
Soa algo excessivo, nesta quadra de penúria orçamentária, pagar bolsas para manter estudantes na escola, como sugere Haddad. Não é má ideia, porém, pôr em prática a flexibilização pretendida pela reforma de Temer, sendo quase unânime a avaliação de que o atual currículo, copioso e engessado, contribui para a alta evasão.
As aulas no ensino médio precisam tornar-se mais interessantes e úteis para os jovens. Um bom começo seria empreender melhorias na infraestrutura da escola, no transporte e no acompanhamento de alunos em dificuldade.
Estabelecimentos de regiões pobres não podem prescindir de ajuda externa, financeira e de especialistas, para implementação de projetos pedagógicos e formação de professores. Viria a calhar a verba prometida pelo Planalto, se ela não se esgotar na primeira parcela.
Seria mais prudente deixar esse tipo de medida para ser acordada, após o segundo turno da eleição, entre as equipes de transição de governo. Sem um compromisso de continuidade, os recursos correm risco de escoar pelo ralo de ineficiência que engole as promessas de reforma da educação no Brasil.
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