Ricardo Noblat
A condenação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu a 23 anos e três meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, participação em organização criminosa e lavagem de dinheiro, não surpreendeu quem acompanha de perto os
desdobramentos da Lava-Jato. Tampouco o rigor da pena que equivale a uma espécie de prisão perpétua, a levar-se em conta a idade avançada de Dirceu (70 anos).
Foi a maior pena aplicada a um réu em uma única ação desde o início das investigações Lava-Jato.
De fato, a sentença lavrada pelo juiz Sérgio Moro chamou a atenção pelo o que diz em dois momentos. O primeiro:
– Não entendo, como argumentou o Ministério Público Federal, que o condenado dirigia a ação dos demais políticos desonestos, não estando claro de quem era a liderança.
O segundo:
– [Não reconheço o ex-ministro] como comandante do grupo criminoso, pelo menos considerando-o em toda a sua integralidade (empresários, intermediários, agentes públicos e políticos).
Terá havido um poderoso chefão ou mais de um chefe da roubalheira praticada na Petrobras por malfeitores? É a caça dele – ou deles – que está Moro. E também o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot.
Na denúncia contra Lula apresentada ao Supremo Tribunal Federal no início de maio, Janot afirma que ele teve “papel central” na trama para tentar barrar a Lava Jato e a delação premiada do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró.
O procurador conclui que Lula “impediu e/ou embaraçou investigação criminal que envolve organização criminosa, ocupando papel central, determinando e dirigindo a atividade criminosa praticada por Delcídio do Amaral, André Santos Esteves, Edson de Siqueira Ribeiro, Diogo Ferreira Rodrigues e José Carlos Bumlai”.
O cerco a Lula só faz estreitar-se. Ele é alvo de quase uma dezena de investigações, incluindo-se as levadas a cabo pelo Ministério Público de São Paulo. Ou Lula acabará preso por um ou mais crimes, ou inocentado das suspeitas que, hoje, o perseguem.
Se preso, sua carreira política chegará ao fim. Se inocentado, será forte candidato a presidente da República daqui a dois anos. Sua idoneidade, afinal, terá sido atestada em todas as instâncias da Justiça.
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