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O povo esperava mais de Fruet

fruet

do Celso Nascimento, na Gazeta do Povo

Ao fim do primeiro ano do mandato Gustavo Fruet, as ruas de Curitiba sentem dificuldade para dar nota positiva à sua administração. Pouco mais de metade da população (54%) ainda mantém alto o prestígio do prefeito, mas há uma parte considerável (41%) dos curitibanos que desaprova sua gestão. Com um detalhe importante: a desaprovação se eleva a 47% entre os de menor renda e menor escolaridade – isto é, entre aquele segmento que o vulgo classifica como “povão”. Os mais ricos e mais escolarizados – aqueles que pouco precisam de prefeito – dão-lhe 60% de aprovação e 36% de referências negativas.

Apresentados assim, os índices aferidos às vésperas do Natal pelo Instituto Paraná Pesquisas, a pedido desta Gazeta, até poderiam ser considerados ra­­zoáveis. Mas, colocados no contexto histórico, ­­­vê-se que o desempenho de Gustavo no período decaiu bastante aos olhos da opinião pública: em abril, seu índice médio de aprovação era de 66%, e o de desaprovação, 26%.

Que motivos levaram os curitibanos a diminuir suas expectativas em relação ao prefeito? Há um conjunto de fatores, mas certamente o que mais pesou foi a percepção genérica de que sua gestão ficou aquém das expectativas criadas durante a campanha eleitoral. Imaginava-se o exercício de pulso firme do novo prefeito para cumprir a promessa de resolver tudo quanto ele denunciou como errado na administração do adversário, o ex-prefeito Luciano Ducci.

O que (não) aconteceu no primeiro ano fez reduzir a esperança popular para nível baixo, incomum no primeiro ano de mandato de governantes recém-eleitos. Ajudaram a fazer crescer a insatisfação, as contradições entre o que se prometia na campanha e o efetivamente percebido pela população.

Por exemplo: não aconteceram melhorias sensíveis na área de saúde pública; o transporte público (embora com tarifas mais baixas graças à pressão das ­­ruas) manteve-se nas mesmas condições; denúncias de suposto superfaturamento em obras (o viaduto estaiado era uma delas) foram jogadas sob o tapete; a abertura da “caixa preta” do ICI esbarrou em dificuldades com as quais Gustavo parecia não contar; o serviço de radares, embora a preços mais baixos, manteve-se o mesmo; da solução para o destino do lixo de Curitiba e região metropolitana pouco se falou; a promessa de investir 30% das receitas em educação também não se cumprirá em 2014, quando executará o primeiro orçamento de sua autoria.

Gustavo fez promessas de campanha que já sabia impossíveis cumprir? Ou teria errado seus cálculos? A se considerar a realidade que diz ter encontrado, a segunda alternativa é a correta. Segundo escreveu em relatórios que encaminhou aos Ministérios Públicos Estadual e Federal e aos Tribunais de Contas da União e do Estado, passava de meio bilhão o “furo” de caixa da prefeitura: R$ 400 milhões em compromissos não pagos; outros mais de R$ 100 milhões em despesas sequer empenhadas.

Fruet priorizou à arrumação do caixa. Fez uso de medidas desagradáveis para os credores – obrigados, por falta de melhor opção, a aceitar o parcelamento em 36 meses de seus haveres. Credores de menor porte tiveram de aguentar à míngua os primeiros três meses. O rombo, que no começo da gestão era de 10% do orçamento, chega ao fim do ano representando apenas 2%.

Ok! Quer dizer, então, que a partir de 2014 Curitiba vai ter um prefeito “fazedor”? No primeiro ano, projetos grandes foram elaborados, assim como equacionadas fontes de receita. Um deles é o do metrô – linha de 17 quilômetros entre a CIC-Sul e o Cabral. O edital deve sair até fevereiro, e as obras – se tudo der certo – iniciam-se em seguida.

Há promessas também de grandes intervenções ambientais, assim como de expansão e melhorias nas áreas de saúde, educação e creches. Se saírem do terreno das boas intenções e tomarem forma diante dos olhos da população, é até possível que os índices de aprovação do prefeito melhorem.

Mas há uma pedra no meio do caminho: a capacidade política e executiva de Fruet será novamente colocada à prova diante de um embate com data marcada: é 26 de fevereiro, dia de definição do novo salário dos motoristas e cobradores e, consequentemente, da nova tarifa dos ônibus de Curitiba. No mínimo, vai subir o mesmo que a inflação do ano, coisa de 6% – desde que o governo do estado mantenha o subsídio parcial que paga para manter a integração do transporte metropolitano.

O embate político pode caminhar para duas opções: ou o governo mantém o subsídio e a passagem sobe menos; ou Fruet segue o conselho de assessores radicais de desintegrar as linhas metropolitanas e baixar a tarifa só dos curitibanos.

As eleições de 2014 vão ditar o caminho a ser escolhido.