WhatsApp segue um território livre para os sensacionalistas e teóricos da conspiração que buscam, no mínimo, a admiração de seus amigos ou familiares
O Reuters Institute Digital News Report 2018, relatório anual elaborado pelo Reuters Institute For The Study of Journalism, em parceria com a Universidade de Oxford, traz dados preocupantes sobre o comportamento dos brasileiros no ambiente digital, no que concerne à informação.
Durante todo o mês de janeiro e o início de fevereiro deste ano, o Reuters Institute For The Study of Journalism realizou uma pesquisa online com 74.000 pessoas em 37 países, incluindo o Brasil, sobre seus meios preferidos para leitura de notícias, a confiança que depositam nos ditos veículos tradicionais de informação, o apoio que dão a ações governamentais para combate às chamadas fake news, além de outras questões relevantes para a compreensão da importância da atividade jornalística hoje.
Mais da metade dos brasileiros que têm acesso à internet (52%) prefere o Facebook para se informar sobre fatos relevantes da vida nacional e do mundo. O número ainda é bastante expressivo, mas o resultado de 2018 representa uma queda de 5% em relação ao ano passado.
Quando comparados os resultados das pesquisas feitas entre 2014 e 2018, é possível observar que as redes sociais estão em queda como meio preferencial de consumo de notícias. Tanto o Facebook como o Twitter experimentaram um período de crescimento entre 2014 e 2016; a partir de então, deu-se um declínio até o atual platô de estagnação. Do total de consultados pelo Reuters Institute For The Study of Journalism este ano, 36% disseram usar o Facebook para se informar, enquanto apenas 11% preferem o Twitter. O contrário é observado em relação ao WhatsApp, que, em média, registrou crescimento de 15% entre 2014 e 2018 nos 37 países onde a pesquisa foi realizada.
No Brasil, cerca de 48% dos respondentes em 2018 disseram usar o WhatsApp para se informar, um crescimento de 2% em relação ao ano passado.
Com base nas respostas dadas pelos consultados, o Digital News Report 2018 revela que o Facebook se tornou uma rede social tão vasta e heterogênea que as pessoas simplesmente não se sentem mais confortáveis em compartilhar informações pessoais naquela plataforma e tampouco confiam no conteúdo que trafega pela rede. Este poderia ser um dado auspicioso caso a opção não fosse o WhatsApp, que é tão ou mais descontrolado do que o Facebook no que tange à confiabilidade das notícias que circulam por lá.
Quando instados a dar suas percepções sobre as marcas Facebook e WhatsApp, os respondentes se referiram ao primeiro como uma rede social “egocêntrica”, “assustadora”, “multifacetada”, “genérica” e voltada para os que passam por “crises de meia-idade”. Já o WhatsApp é percebido como mais “amigável”, “divertido”, “agregador”, “honesto”, “discreto” e “confiável”.
Paradoxalmente, a pesquisa revelou que os brasileiros são os mais preocupados com a disseminação de fake news no ambiente digital, sobretudo por se tratar de ano eleitoral. Quando solicitados a dizer o grau de concordância com a afirmação “Estou preocupado sobre o que é real ou falso na internet”, 85% dos brasileiros consultados concordaram com a assertiva. Para ter uma ideia, este porcentual é de 64% nos Estados Unidos de Donald Trump e a campanha que seu governo faz contra os veículos de informação que ousam apresentar dados contrários aos interesses do governo.
Se a confiabilidade das informações no ambiente digital é um valor importante para os brasileiros, o que circula pelo WhatsApp deve ser recebido com a devida cautela.
Se redes como o Facebook têm sido fortemente cobradas, inclusive por órgãos de governo, a reforçar os mecanismos de identificação de postagens falsas, o mesmo não ocorre com o WhatsApp, que segue um território livre para os sensacionalistas e teóricos da conspiração que buscam, no mínimo, a admiração de seus amigos ou familiares, ainda que isso ocorra à custa da disseminação de informações falsas ou descontextualizadas. Ao contrário do Facebook, o WhatsApp ainda conta com o anonimato que oferece menor risco a quem divulga notícias que se provam falsas.
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