Edson José Ramon
Estão definitivamente inscritas no plano do indiscutível as dificuldades que se empilharam nos últimos meses no instável terreno da economia. Ninguém, em sã consciência, pode negar a realidade adversa avolumada com a rapidez do incêndio na pradaria, apesar das constantes advertências dos setores responsáveis diretamente envolvidos no processo da produção e consumo.
As previsões do próprio Banco Central, dadas a conhecimento público pelo boletim Focus, atestam o fraco desempenho da produção industrial e seu impacto ruinoso sobre o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014. A correlação é inevitável entre a queda da produção e a redução das projeções de expansão do PIB – aliás, remarcadas para baixo com uma constância intimidadora.
Nas semanas anteriores à redação desse artigo, sempre citando dados liberados pelo Banco Central e divulgados pela imprensa, a média das expectativas do mercado para a alta do PIB foi corrigida para baixo pela décima vez consecutiva, reduzindo-se na primeira semana desse mês a pífios 0,86%. Quatro semanas antes dessa melancólica previsão, o crescimento estimado para o ano não passava de 1,7%. O panorama aziago não deverá mudar em 2015, cuja projeção de crescimento da riqueza nacional continua represada em 1,5%.
Os juros altíssimos cobrados pelo sistema financeiro também agem de forma inibidora sobre os planos de investimento e obtenção de crédito, forçando a queda da produção e, por extensão, o menor movimento de vendas no comércio, cujos índices têm caído assustadoramente desde o início deste ano, estabelecendo paradoxo cada vez maior entre lucros exorbitantes de bancos e as dificuldades crescentes do setor produtivo.
Trata-se de uma situação esdrúxula em que o Brasil cresce pouco, todos ganham menos – se é que não perdem –, enquanto os bancos ganham muito.
Na visão dos setores de ponta do mercado, as agruras do cenário econômico tendem a marchar para o descontrole, havendo já aqueles que antecipam nuvens negras sobre a oferta de empregos, além de uma indesejável onda de demissões em determinados nichos da produção industrial, com consequências sobre outros setores, como o comércio.
Vendo por esse ângulo, há bastante veracidade na assertiva de que a bolsa cai toda vez que as pesquisas de intenção de voto favorecem a presidente Dilma Rousseff, fato que mostra sem mistificações a falta de confiança do mercado diante da condução da política econômica do governo. Uma política que se esgotou em providências circunstanciais e epidérmicas, produzindo efeitos sazonais destinados a salvaguardar interesses localizados, ao passo que o conjunto da produção e do consumo ficou a ver navios.
Os anêmicos resultados da economia são também evidentes no setor de comércio exterior, que sobrevive à custa da exportação de commodities, cujos preços no mercado internacional estão continuamente sob o risco de desabar. Nesse aspecto, mesmo as transações comerciais com os parceiros do Mercosul, especialmente com a Argentina (por sinal ameaçada de entrar em default), não conseguem suprir as necessidades do país, até agora incapaz de selar acordos comerciais de vulto com países de economia industrializada.
Ao fim de mais um ciclo de governo, em que nenhuma iniciativa de correção de rumos foi anunciada no campo das reformas indispensáveis para sustentar o Estado Democrático de Direito, a alternativa é clamar pela união de forças da cidadania responsável e propor uma nova realidade para o Brasil.
Edson José Ramon, empresário, é ex-presidente da Associação Comercial do Paraná.
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