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O papel das ruas

O papel das ruas

Adelaide de Oliveira

Nos últimos anos, temos vivido dias intensos e históricos, seja pelo seu ineditismo como pela sua repercussão na sociedade. Temos experimentado muitos desafios, emoções variadas e grandes mudanças.

Desde as manifestações de 2013, difusas em suas pautas mas consistentes no arrebatamento, temos vivenciado dias marcantes, como o 15 de março de 2015, por exemplo, quando começava a ser delineada a direção que o cidadão comum brasileiro queria.

Pedia-se a destituição de um governo que se enrolara no esquema de corrupção até então conhecido como petrolão.

A sociedade brasileira começou a mostrar que não tolerava mais tanta corrupção, queria conhecer a verdade e a punição dos corruptos. E a verdade que viríamos a conhecer era assustadora. Mais da metade do Congresso Nacional envolvida num esquema de corrupção que se mostrou, com o tempo, o maior do mundo. Um recorde vergonhoso.

Mas foi ali também que aconteceu algo que ninguém previra: em vez de se conformar, como sempre ocorrera, o povo brasileiro se indignou e foi para as ruas. E a história dava uma guinada.

O povo nas ruas e uma turma em Curitiba inauguraram uma nova era para o Brasil. A população ocupou os espaços públicos e foi às redes sociais. Os manifestantes pintaram de verde amarelo os principais endereços do país sem usarem tintas. E aquilo que parecia impossível aconteceu: o Brasil mudou o Brasil de forma pacífica, consciente e até com alegria. Era a nossa alma brasileira fazendo história.

A sociedade se organizou para apoiar e recolher assinaturas para o projeto Dez Medidas Contra a Corrupção; fez a maior manifestação política da história brasileira, em março de 2016, e não parou por aí: tem se manifestado nas redes e nas ruas sobre cada lei e ato dos governantes que a incomoda.

Passamos a falar mais de política e menos de futebol. Aprendemos como funciona o Congresso, o Supremo Tribunal Federal. A TV Câmara e a TV Senado alcançaram mais audiência do que tiveram um dia.

Nesta quarta-feira (24), três desembargadores de segunda instância terão a missão de aplicar a lei de forma clara e imparcial, num julgamento que tem mobilizado todo o país : o de um ex-presidente que se revelou um criminoso da pior espécie.

O dia 24 de janeiro de 2018 deverá ser outro marco em nossa história. Neste dia, a coragem vencerá o medo, a ética vencerá a imoralidade, as pessoas de bem e de caráter vencerão os corruptos.

O Estado democrático de Direito prevaleceu. Ricos e poderosos sendo julgados e, quando culpados, condenados; isso acena para um Brasil melhor do que foi até então. A impunidade está com seus dias contados. Os privilégios têm que cair, vão cair, lutaremos para isso. Todos são iguais perante a lei.

E assim escreveremos o capítulo mais importante da nossa história: ninguém está acima da lei, a lei é igual para todos. É isso o que quer o brasileiro comum, o cidadão que todos os dias sai para trabalhar e sustentar sua família.

A coragem que tivemos nestes últimos anos para enfrentar os graves problemas de maneira pacífica estará nos livros de história, para que nossos filhos e netos estudem e para que tenhamos, além de orgulho, um norte para
o futuro que queremos, de paz, harmonia, desenvolvimento, legalidade e sucesso.

Precisamos nos investir dessa responsabilidade e responder a ela como as gerações que virão esperam de nós: não é por vingança. É por justiça.

Adelaide de Oliveira, 57, formada em letras e administração de empresas; é corretora de imóveis e porta voz do Movimento Vem Pra Rua