No último dia 19, o atleta Wanderlei Silva, ex-lutador do UFC, compartilhou na sua página do Facebook uma publicação em que fazia acusações a um dos filhos do ex-presidente Lula. Nem é preciso dizer que o post foi rapidamente replicado por muita gente. Usando a mesma rede social, Lula reagiu. Afirmou que iria analisar, com seus advogados, as medidas judiciais cabíveis e acrescentou o seguinte comentário: “Muita gente chama MMA de vale-tudo. Mas se nem no octógono vale tudo mesmo, nas redes sociais também não pode ser assim. Mentir, por exemplo: não vale!”
Admiro o atleta Wanderlei Silva, um curitibano que ganhou o mundo, foi considerado o maior lutador de todos os tempos e inspirou muitos brasileiros. Não sei se ele, deliberadamente, quis reproduzir as informações ou se cometeu um equívoco. Também não tenho a menor condição de avaliar se os familiares do ex-presidente se beneficiaram de forma ilícita do exercício do poder na Presidência da República. Isto, se denunciado, deve ser analisado e julgado nos tribunais.
Mas, neste nosso século digital, as informações se transmitem e se dispersam pelas redes sociais sem nenhum controle e, como na música Um Índio, de Caetano Veloso, “numa velocidade estonteante”.
Na maioria dos casos, o que as pessoas recebem via Facebook, Twitter, Instagram ou outras plataformas é rapidamente disseminado como se verdade fosse. Raramente alguém checa, analisa, pondera ou respira e pensa dois segundos antes de dar um clique e replicar a informação que acabara de receber.
Fareed Zakaria, colunista do Washington Post e que já foi “trollado” nas redes sociais, em um artigo recente citou um amplo estudo do Facebook em que especialistas concluíram que as pessoas compartilham principalmente informações que confirmam seus preconceitos, e não dão atenção aos fatos e à veracidade da informação. Fui coordenador de marketing digital em uma campanha eleitoral e sei muito bem o que isso significa. Uma das minhas maiores preocupações estava longe de ser a geração dos conteúdos no site oficial ou a atualização nas redes sociais. Ao longo de toda a campanha, a maior dificuldade foi combater a “trollagem” – e não apenas dos fãs dos candidatos de oposição à candidatura de Beto Richa: muitas vezes tive de diminuir a fervura da emoção entre os militantes a favor do candidato tucano.
Tenho certeza de que não fui o único a conviver com esse quadro. Qualquer profissional que tenha atuado na área de marketing digital nos últimos anos sabe como a radicalização e o extremismo se propagam nas redes sociais. E o anonimato possível acaba sendo o grande rio condutor desses sentimentos carregados de ódio.
Gosto muito da frase “o coração não gera o ódio. Quem gera o ódio é a boca”. Agora, como temos nos comunicado quase somente pelas redes sociais, temos a grande oportunidade de refletir um pouco antes de começar a digitar.
Hudson José é jornalista especializado em marketing e coordenou o marketing digital da campanha de Beto Richa ao governo do Paraná em 2010.
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