Marcello Richa
Motivo de controvérsia sobre a validade de sua realização, especialmente em um período que o país vive uma crise financeira severa, o Brasil está a dois meses do início dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Muito se diz sobre o legado que esses eventos trarão para o país, mas é importante questionar se eles irão valer o investimento realizado.
Atualmente os gastos das Olimpíadas já superam a casa dos R$ 39 bilhões, muito acima dos R$ 28 bilhões inicialmente estimados. É consenso entre especialistas que os Jogos Olímpicos, independente de onde são realizados, são deficitários. Para um país como o Brasil, que tem carência social e vive um período de recessão, não parece ser coerente investir tanto dinheiro público no evento. Uma vez que assumimos o compromisso, o mínimo seria utilizar as Olimpíadas para criar benefícios que trarão um retorno maior que os custos.
Os benefícios, porém, não parecem ter um foco correto, trabalhando quase exclusivamente em uma suposta melhoria de imagem do país. Não existem dúvidas que ganhamos visibilidade e publicidade, porém isso pode ser negativo. O Rio de Janeiro enfrenta uma forte crise financeira e declarou estado de calamidade para conseguir cumprir as obrigações assumidas para a realização das Olimpíadas, apenas mais um fato negativo que se soma ao Zika Vírus, falta de segurança, obras excessivamente caras e estrutura ruim.
Diferente da abordagem adotada, o grande legado das Olimpíadas para o país deveria ser o incentivo e maior atenção às políticas esportivas. Infelizmente não é possível constatar melhorias significativas em prol do desenvolvimento da iniciação esportiva, alto rendimento ou inclusão social por meio do esporte com a realização do evento.
Ferramenta essencial para melhorar o desenvolvimento do país, o esporte não apenas proporciona uma vida mais saudável, mas também trabalha questões éticas, psicológicas e sociais que impactam diretamente em nossas vidas. A prática esportiva possibilita transformar a realidade de crianças e adolescentes, os afastando da criminalidade e estimulando a superação de barreiras, a disciplina, o respeito e determinação para alcançar seus objetivos.
Um exemplo de foco em fomentar o esporte foi realizado no Paraná, que mesmo longe da sede das Olimpíadas, buscou utilizar o evento para promover mudanças positivas nas políticas públicas do setor com a criação do Programa Talento Olímpico do Paraná, que garante recursos financeiros, por meio de bolsas, para atletas e técnicos do estado. Em 2011 foram 250 bolsistas beneficiados e um investimento de R$ 625 mil. De lá para cá o programa cresceu e já conta com 1.500 atletas e técnicos contemplados com recursos que chegam a R$ 10 milhões.
As Olimpíadas poderiam trazer grandes benefícios ao país se fossem construídas em conjunto com ações que promovam a inclusão por meio do esporte, estimulem a parceria e o incentivo da iniciativa privada e permitissem a criação de novos programas que contribuam no aprimoramento de nossos atletas, para que eles tenham condições e estrutura para alçar voos maiores. No fim, assim como a Copa do Mundo, o grande legado das Olimpíadas será percebemos que desperdiçamos a oportunidade de potencializar o esporte como instrumento de desenvolvimento social e econômico em nosso país.
Marcello Richa é presidente do Instituto Teotônio Vilela do Paraná (ITV-PR)
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