Ricardo Noblat
Na Casa Branca, ontem, faltou energia. No Palácio do Planalto faltou juízo. O mínimo de juízo. Seria imprudente dizer que foi o mais atrapalhado dos dias do governo Dilma. Afinal, o segundo governo dela está mal começando. E começando mal.
Em menos de 100 dias, Dilma trocou três vezes de ministro e extinguiu uma Secretaria com status de ministério.
O governo parece mais uma biruta de aeroporto que muda de direção ao sabor da força dos ventos.
Na última segunda-feira, o dia anoiteceu com a notícia de que Eliseu Padilha (PMDB-RS), ministro da Aviação Civil, havia sido convidado por Dilma para substituir Pepe Vargas (PT-RS) no ministério encarregado da articulação política do governo.
De fato, ao esbarrar em Padilha durante o almoço, Dilma o convidou para o lugar de Pepe. Padilha levou um susto.
Presidente não costuma convidar ninguém para o governo. Manda um emissário sondar a pessoa. Assim evita ouvir um não.
Padilha pediu tempo para pensar. Depois consultou Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados, Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e Temer.
Foi dormir decidido a recusar o convite.
O Palácio do Planalto é um ninho de cobras venenosas, todas elas do PT. Por que se arriscar a ser picado por elas?
Quem convive de perto com Dilma sabe como é difícil lidar com seu temperamento explosivo. Ela confia em poucos. Centraliza o poder. E detesta a política e os políticos.
O ministério da coordenação política é o que registra o maior número de óbitos desde o início do governo Dilma.
Ontem, pela manhã, Padilha disse não a presidente. Alegou que é pai de um filho de poucos meses de vida. E que sua mulher vetara sua saída de um ministério para o outro.
Acostumada a humilhar seus subordinados, Dilma acabou humilhada por um deles.
Para que o estrago em sua imagem não fosse maior, só lhe restou improvisar outra vez: convidou Temer para assumir a articulação política do governo.
Joaquim Levy, ministro da Fazenda, é quem manda na Economia. Tenta corrigir os erros cometidos por seu antecessor no cargo, Guido Mantega, e por Dilma, que pensa que entende de Economia.
Caberá a Temer mandar na Política. Sobrará o quê para Dilma? Pouco sobraria se essa divisão de fato funcionasse. Mas, não.
Dilma fiscaliza de perto até o que Levy diz em palestras. Só faltaria agora ela armar o palanque para que Temer desse um show de habilidade política.
Se tal ocorresse, o presidencialismo como regime de governo daria ensejo na prática a um tipo de parlamentarismo à moda brasileira. Como peru.
A tese de que Dilma fez uma jogada de mestre jogando Temer, presidente do PMDB, contra Eduardo e Renan, pode interessar aos porta-vozes informais dela, mas não se sustenta na vida real.
Sozinho, Temer não manda no PMDB. Entre virar um pau mandado de Dilma e continuar influente no seu partido, preferirá o segundo caminho.
Logo…
É só dar tempo ao tempo para conferir que foi mais uma jogada desastrada de uma presidente famosa por sua incompetência.
A culpa é de Lula que a inventou.
Desde que se convenceu do seu erro, Lula tenta sem sucesso reassumir o controle do avião.
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