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O Filho Eterno, de Cristovão Tezza, chega ao teatro

Grabriela Mellão
Folha de S. Paulo

Com o nascimento de um filho nasce também um pai. “O Filho Eterno”, bela transposição teatral do premiado livro de Cristovão Tezza que estreia em São Paulo no sábado, 17, retrata o surgimento de pai e filho doentes. Neste que é o primeiro monólogo da Cia. Atores de Laura em duas décadas de existência, o ator Charles Fricks retrata a dificuldade de um homem em lidar com o fato de que seu filho recém-nascido tem síndrome de Down.

O espetáculo adaptado por Bruno Lara Resende foi tão bem-sucedido quanto o livro que o inspirou. A obra autobiográfica de Tezza venceu o Jabuti e outros sete prêmios literários em 2008. Já a peça dirigida por Daniel Herz foi um dos destaques da temporada teatral carioca de 2011. Rendeu a Fricks o Prêmio Shell de melhor ator e a Marcia Rubin o da categoria especial, pela direção de movimento desta e de outras três montagens.

“A escolha de centrar a encenação no trabalho do ator foi potencializada pela interpretação do Charles, que é versátil, generoso”, afirma o diretor. “Foi um pulo num enorme e lindo abismo. Como o de meus colegas que estavam indicados ao prêmio. Monólogo é uma escolha corajosa para um ator”, avalia Fricks.

Herz não facilitou seu trabalho. Cuidou para que não fugisse da crueldade do personagem do livro. Além disso, deu a ele somente o apoio de uma cadeira em cena. A opção intensifica a solidão do protagonista. “O pai se sente só e, de uma certa forma, deseja essa solidão, a verdadeira cúmplice de suas angústias e alegrias”, explica Herz. “A cadeira é ele mesmo, sua solidão e o próprio filho”, completa.

Montanha-russa – Fricks acredita que, mais do que retratar a relação específica que se estabelece entre um pai e um filho com síndrome de Down, o espetáculo apresenta “a montanha-russa de emoções de um jovem pai que está aprendendo a amar um filho”.

“Para mim, ‘O Filho Eterno’ é um livro sobre relacionamento humano e a dificuldade de aceitar o diferente. O que está em questão é, sobretudo, a intolerância. Queríamos que a adaptação para os palcos também tivesse essa abrangência”, explica.

Em junho e julho, “O Filho Eterno” integra uma mostra comemorativa dos 20 anos da trupe no Rio, ao lado de trabalhos como “Decote”, “As Artimanhas de Scapino”, “Adultério” e “Enxoval”.

Para fechar as celebrações, está prevista para o segundo semestre a estreia de “Absurdos”, uma criação coletiva inspirada na obra do romeno-francês Eugène Ionesco (1909-94).