Ademar Traiano
O circo montado pelo PT para o registro da candidatura natimorta de Lula, a pirotecnia do início da campanha presidencial não deve obscurecer a realidade dramática que o Brasil está vivendo.
No mesmo dia em que se registravam as candidaturas presidenciais o IBGE divulgou uma estatística alarmante. Falta trabalho para 27,6 milhões de brasileiros. Para se ter uma noção do que isso significa, basta dizer que esse número equivale a quase toda a população do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul somadas.
O IBGE traz outro dado assustador. Um total de 4,8 milhões de brasileiros, desanimou e simplesmente desistiu de procurar emprego. Reverter esse desalento, lançar políticas que gerem emprego de forma acelerada, sem aumentar os desequilíbrios que afetam as contas públicas é um dos grandes desafios que aguardam o sucessor de Michel Temer.
Mas não é o que se vê na agenda da maior parte dos candidatos. O PT divulgou um plano de governo que parece destinado a aprofundar as políticas desastrosas praticadas por Dilma Rousseff, que estão na origem da crise que atravessamos. O programa do PT adiciona as antigas insanidades, como intervenção nos juros cometidas por Dilma, outras, como o uso das reservas cambiais para financiar programas de governo, a serem perpetradas pelo herdeiro presuntivo de Lula, Fernando Haddad.
O populismo e as bravatas dão o tom a pregação econômica do candidato do PDT, Ciro Gomes, que promete reverter a reforma trabalhista e ainda garante que vai tirar o brasileiro do SPC. Alertado de que tal compromisso poderia ter resultado desastroso, já que o eleitor mais ingênuo, confiante de que seria socorrido pelo “futuro presidente” em suas e pendências financeiras, poderia se sentir estimulado a se endividar ainda mais, Ciro ensaiou um recuo.
O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, parece ter se convertido ao liberalismo. Apresenta seu guru, o economista liberal, Paulo Guedes, como prova de que repudia seu passado nacionalista e estatizante. Votar no candidato significa dar um voto de confiança nessa conversão. Também implica em acreditar que um presidente sem qualquer base no Congresso possa dar certo. Aposta do gênero já foi feita pelo brasileiro, com resultados conhecidos.
A candidata Marina Silva (Rede), é outra que sugere ter esquecido seu passado. Diz que não reza mais pela cartilha petista e também passou a acreditar nos méritos do mercado como indutor da prosperidade econômica. Além das justificáveis dúvidas que suscita esta conversão, Marina, uma ambientalista de raiz, não conseguiu deixar clara sua nova relação com o agronegócio, o principal motor da economia brasileira. Como ministra do Meio Ambiente de Lula, vivia em conflito com o setor.
Dos candidatos que ocupam as primeiras posições, nas pesquisas disponíveis sobre a eleição presidencial, o do PSDB, Geraldo Alckmin é, certamente, o mais qualificado para enfrentar e vencer o imenso desafio do emprego. Alckmin ocupou por quatro vezes o governo de São Paulo em gestões que ganharam ampla aprovação popular. É o único candidato que foca no emprego em sua campanha. “Nosso compromisso com o emprego, renda, salário melhor”, repete. Seu legado exemplar na área da segurança pública, outro nó que assombra os brasileiros, não é questionado nem por seus adversários. São Paulo, que já assustou pela insegurança, hoje é o estado mais seguro do país.
Apesar de o Brasil ter oficialmente saído da recessão no fim de 2016, seus efeitos devem se prolongar pelos próximos três anos, segundo estimativa da Fundação Getúlio Vargas. Se tudo correr bem, a crise, tal como nos deparamos – inclusive no crítico setor do emprego – levará todo esse tempo para retornar aos níveis pré-Dilma.
Isso quer dizer que ela pode contaminar praticamente todo o mandato do próximo presidente. A situação não está para brincadeira. O brasileiro precisa levar muito a sério a decisão que vai tomar quando for votar.
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