por Paulo Krauss
À medida que o elevador se aproximava do 11º andar, o assobio ia ficando mais forte. A porta se abria e Fedato me recebia com um abraço caloroso e um sorriso doce. Ele mantinha o braço em torno do meu pescoço e ombros, enquanto me levava ao “escritório”.
Não era exatamente um aposento de trabalho, mas um pequeno museu do futebol paranaense dentro daquele apartamento a 500 metros do Couto Pereira. Recortes de jornais, fotos, camisas, faixas de campeão, tudo guardado com carinho desde os anos 40 e 50.
Era ali que Fedato passava a maior parte do dia, desde que se aposentara da loja que fundou nos anos 60. Foi ali que, juntos, preparamos seu livro de memórias.
Confesso que as pernas tremiam na primeira vez que peguei o elevador. Havíamos sido apresentados por seu filho, Aroldinho, que me convidara para ajudar nas memórias, um sonho antigo do pai. Aceitei de imediato, mas com um frio na barriga.
O assobio alegre, o sorriso e o abraço do primeiro e de todos os nossos encontros me tranquilizaram. Ainda hoje quando penso em Fedato lembro do elevador subindo e do assobio se aproximando. Fedato foi a pessoa mais afável que conheci.
Fedato trabalhou com entusiasmo no livro, todo dia escrevia algo. No começo, usava a máquina de escrever. Depois de uns dois meses, com quase 80 anos de idade, Fedato aprendeu a digitar no computador. Praticamente toda a pesquisa para a edição estava ali mesmo no escritório-museu.
A grandeza do Fedato jogador é notória. Como empresário, também teve um papel importantíssimo na sociedade paranaense. A Fedato Sports sempre apoiava o esporte amador, patrocinava até corrida de rolimã no parque São Lourenço. Fedato criou a marca própria, com bolas, camisas, calções, chuteiras e agasalhos bem mais baratos que as marcas famosas. Ele achava importante haver artigos esportivos com preços mais acessíveis.
O Fedato jogador, perdemos em 1958, quando ele parou de atuar. O das lojas saiu de cena em 2002, com a aposentadoria do empresário. O Fedato que nos deixa agora, para mim, era o mais importante. Perdemos o Gentleman, como até os adversários o chamavam nos tempos de jogador. Aroldo Fedato era educado, amoroso, muito elegante, mas uma pessoa humilde, que cumprimentava com a mesma simpatia o porteiro ou o dono do prédio. O Paraná perde um dos maiores cavalheiros que já teve.
Paulo Krauss, jornalista e co-autor do livro Fedato – O Estampilla Rubia (Travessa dos Editores, 2005)
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