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O alto custo das passagens de última hora

O alto custo das passagens de última hora
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Autorregulação e autocontrole são a solução

Vinicius Lummertz

Uma passagem aérea de Brasília para Florianópolis, por exemplo, pode custar menos de R$ 300 ou mais de R$ 2,5 mil, dependendo da antecedência com a qual é adquirida. Trata-se de uma realidade que tem gerado reclamações ao Ministério do Turismo. Com frequência, pessoas e líderes do setor me abordam na esperança de uma explicação. Não defendem a volta do controle de preços, mas pedem que algo seja feito.

A prudência pede planejamento para as viagens. Compras antecipadas normalmente têm custos mais baixos, embora a antecipação nem sempre seja possível, como no caso de deslocamentos a serviço ou por alguma emergência. É nessas horas que vem o susto: as tarifas que, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil, caíram 0,6% no ano passado em relação ao anterior, podem facilmente quadruplicar de preço se compradas de véspera.

É comum aqueles que para mim reclamam compararem os preços domésticos de última hora com os internacionais. Pude constatar a diferença em uma rápida busca no dia 14/5. Uma companhia oferecia passagens para Ottawa, no Canadá, por R$ 1.857 ida e volta com taxas inclusas. Havia também promoções para Milão e Roma (R$ 2.074) e para Joanesburgo (R$ 1.586). Ainda que seja comparar coisas diferentes, o bom senso grita: como é possível?

É fato que as tarifas, de uma forma geral, não são caras no Brasil, mesmo considerando as variações sazonais dos períodos de férias e vésperas de feriados prolongados. Devemos considerar também que, em duas décadas de liberdade tarifária, segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas, o preço médio da tarifa doméstica teve queda de 49,2% em termos reais; 75 milhões de passageiros foram agregados ao modal aéreo, a pontualidade aumentou e houve renovação da frota.

Ainda assim, quando uma passagem sobe de R$ 250 para R$ 2.500 no mesmo trecho, uma coisa me vem em mente: em que outro setor isso acontece? Se alguém vai a uma consulta privada num médico, que custe R$ 300, esta poderia custar R$ 2.500 de última hora? Ou uma roupa em promoção no shopping? Ou um ingresso para um jogo de futebol?

Poderíamos buscar explicações nos custos operacionais das companhias aéreas. Sobre o querosene de aviação, item que mais onera o setor, por exemplo, incide ICMS que varia de 12% a 25%. No entanto, para atrair mais voos para seus aeroportos, vários estados reduziram a alíquota. Apesar disso, nem essa medida nem outras periféricas, como a venda de assentos e o fim da gratuidade para bagagens despachadas e da alimentação a bordo, não surtiram os efeitos esperados, na visão do consumidor.

Então, chego à conclusão de que talvez nosso algoritmo seja o mais cruel e nos leva a um limite muito alto de inelasticidade de preço na demanda: no aumento de preços, a demanda não cai por não haver substituto de oferta.

Essa situação indica que estamos no rumo certo ao defender medidas para ampliar a conectividade aérea e aumentar a concorrência, como a ampliação da participação de capital estrangeiro nas empresas nacionais. O estímulo à aviação regional e a redução dos custos operacionais das aéreas são outras propostas.

O setor de viagens e turismo é muito importante para a competitividade país. O empenho para alcançarmos padrões de qualidade, oferta e preços que atendam às demandas da população deve vir de todos os envolvidos. No caso das passagens vendidas de última hora, o bom senso e o bom marketing de relacionamento com o cliente indicam: autorregulação e autocontrole são a solução.

Vinicius Lummertz, cientista político, ministro do Turismo desde abril e ex-presidente da Embratur.