Nunca como agora
por Luiz Cláudio Romanelli*
O professor Judas Tadeu Grassi Mendes, Ph.D em Economia, pós-doutor e diretor-presidente da Estação Business School, brindou-nos há dias com dois artigos, publicados pelo jornal "Gazeta do Povo" ("Nunca na história deste país", I e II), nos quais se dedica, com pormenores, a criticar o governo Lula, o qual responsabiliza pelo pequeno desenvolvimento (ou grande atraso) do Brasil. É bom começar o ano político com a oportunidade de debater os rumos do nosso país e, assim, os artigos do professor são oportunos, ainda que tenha com ele mais discordâncias do que acordos.
Inicialmente, deve-se salientar que, pelo menos em meu entendimento, as considerações do professor podem ser divididas em dois grupos, de naturezas distintas. É claro que concordamos com o professor quando ele defende mais investimentos em infra-estrutura e nos serviços públicos essenciais; ou quando prega a diminuição da taxa de juros; ou ainda quando clama pelo aprimoramento da máquina estatal. Ao se posicionar, por exemplo, em favor da escola pública de qualidade e universal para o ensino fundamental, o professor Grassi Mendes bate numa tecla caríssima a todos nós, e posso dizer que concordo inteiramente com ele nessa questão.
A coisa muda de figura quando o professor tenta contextualizar os problemas que o Brasil enfrenta, responsabilizando por eles apenas o governo Lula, passando uma borracha sobre o passado recente e remoto do país e das políticas implementadas por seus governantes. Há, de início, algumas incorreções. Não é verdade, por exemplo, que nunca antes os juros estiveram tão altos no Brasil. O fato é que desde que assumiu, em 2003, a taxa Selic vem sendo baixada no país, sendo hoje aproximadamente a metade do que era. No governo FHC, assim, essa taxa chegou a superar os 40%, sem que se fizesse tanto escarcéu a respeito.
O professor fala da dívida interna, mas não se pronuncia sobre a dívida externa, praticamente liquidada pelo atual governo. Discorre sobre a pequena taxa de crescimento do PIB brasileiro, comparada à de outros países emergentes, mas não diz uma vírgula a respeito dos mais de 20 anos (incluindo o período FHC) em que o Brasil estagnou. Afirma que nunca se gastou tanto com o funcionalismo público, nem se contratou tanto, mas se esquece dos salários congelados por oito anos e da inexistência de concursos públicos no governo anterior. Erra ainda o professor quando tenta imputar ao atual governo descaso com a educação básica, afirmação facilmente desmentida pelos fatos.
A lista poderia continuar por vários parágrafos: o Brasil é hoje auto-suficiente em petróleo; temos uma política externa de muito maior soberania, ampliamos e diversificamos o nosso comércio exterior, com a abertura de novas fronteiras; os programas sociais atingiram uma importância e uma dimensão que, seja qual for o próximo governo, é difícil imaginar que eles possam ser revistos. E assim por diante.
Todos esses são pontos passíveis de debate. Ninguém é dono da verdade e a política e a economia não são ciências exatas. No entanto, há uma afirmação feita pelo professor que exige uma resposta firme. É quando ele diz que "a popularidade elevada (do governo Lula) tem muito a ver com o baixo nível educacional do povo brasileiro, do qual apenas a minoria lê jornais e revistas", para concluir que nunca "tivemos um presidente com tão baixo nível educacional, um desestímulo para as futuras gerações".
Tais afirmações, que exalam um forte preconceito, não cultural, mas social, passam por cima do fato de que o Brasil já teve presidentes engenheiros, médicos, bacharéis em direito, até um sociólogo, muitos poliglotas, e não se coletou nenhuma prova, nesses 120 anos de República, da superioridade política e administrativa dos letrados. E não foi por falta de oportunidade.
*Luiz Cláudio Romanelli, 50 anos, advogado é deputado estadual e vice-presidente do PMDB do Paraná.
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