Arquivos

Categorias

Notas de Odebrecht são ‘perturbadoras’, diz Moro

sergio-moro

O juiz federal Sergio Moro deu prazo até esta quinta-feira (23) para os advogados de Marcelo Odebrecht explicarem as anotações encontradas pela Polícia Federal nos telefones celulares do empresário, que sugerem que ele pensou em obstruir as investigações da Operação Lava Jato antes de ser preso. As informações são da Folha de S. Paulo.

O empresário está preso em Curitiba desde 19 de junho, junto com outros quatro executivos que trabalhavam para o grupo Odebrecht e que também são acusados de participar do esquema de corrupção descoberto na Petrobras.

Uma das anotações encontradas fala em “trabalhar para para/anular (dissidentes PF…)”. Em despacho publicado nesta terça (21), o juiz Moro faz a ressalva de que várias anotações estão sujeitas a interpretação, mas diz que a menção aos policiais é o “trecho mais perturbador” porque “coloca uma sombra sobre o significado da anotação”.

Na interpretação da Polícia Federal, o trecho indica que o empreiteiro pretendia usar policiais federais para atrapalhar as investigações.

No ano passado, a descoberta de uma escuta na cela ocupada pelo doleiro Alberto Youssef em Curitiba levantou suspeitas de que agentes poderiam estar tentando tumultuar a Lava Jato. A PF abriu inquérito sobre a escuta, mas ele ainda não foi concluído.

Moro considerou que uma outra anotação –”higienizar apetrechos MF e RA”, referência do empresário a dois executivos do grupo sob investigação, Márcio Faria e Rogério Araújo, hoje presos com ele em Curitiba– sugere a intenção de destruir provas.

No despacho, o juiz levanta a hipótese de que esse trecho poderia se referir a uma ordem para eliminação de “arquivos comprometedores” em equipamentos eletrônicos dos dois executivos.

O empresário também fez anotações para lembrar que Faria e Araújo seriam reembolsados se não “movimentassem nada” e que suas famílias seriam asseguradas.

No mesmo conjunto de notas, surge o enunciado: “Vazar doação campanha. Nova nota minha midia? GA, FP, AM, MT, Lula? ECunha?”.

Ao interpretar esse trecho, a PF identificou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e associou “MT” ao vice-presidente Michel Temer, “GA” ao governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e “FP” ao governador Fernando Pimentel (PT-MG).

O juiz Moro reconhece em seu despacho que o contexto e as circunstâncias em que o empresário redigiu as anotações ainda precisam ser elucidados. Mesmo assim, segundo o magistrado, elas poderiam indicar uma tentativa de “constranger beneficiários” de doações eleitorais.