A vida dos deputados federais no WhatsApp é intensa. Desde o início da atual legislatura, no ano passado, foram criados inúmeros grupos temáticos no aplicativo para troca de mensagens instantâneas. À primeira vista, a participação exclusiva de parlamentares pode dar a impressão de que o foco exclusivo das atenções é a política. Na prática, o aplicativo se tornou uma fonte de diversão para muitos eleitos. As informações são de Júnia Gama e Eduardo Bresciani n’O Globo.
Em novembro, quando o senador petista Delcídio Amaral (MS) foi preso, o WhatsApp da bancada do PMDB — a segunda maior da Câmara — foi dominado por memes ironizando a situação. Um deles mostrava uma montagem com uma foto de Delcídio misturada a um aspecto marcante do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró: a assimetria entre olhos. Outro simulava um locutor de rádio dedicando a música “Vamos fugir” de Delcídio para Cerveró, uma referência ao fato de o senador ter tentado organizar a fuga do delator.
Entre as brincadeiras mais populares nos últimos meses estão aquelas que envolvem o “Japonês da PF”, o agente Newton Ishii, conhecido por sua atuação nas prisões da Lava-Jato. O senador José Serra (PSDB-SP) também virou meme por conta do “barraco” protagonizado com a ministra Kátia Abreu (Agricultura) em um jantar de confraternização em dezembro passado, que terminou com a peemedebista jogando sua taça de vinho no tucano depois de um bate-boca provocado por um comentário considerado machista.
José Serra vira meme no grupo de WhatsApp de deputados do PMDB por conta do copo de vinho que a ministra Kátia Abreu jogou nele – Reprodução
Apesar das frequentes piadas, o líder do PMDB, deputado Leonardo Picciani (RJ), diz que o aplicativo também serve para os debates. Por garantia, Picciani conta que sempre manda as orientações para votações por meio de SMS, considerado ultrapassado por muitos de seus colegas:
— Nem todos os deputados usam o WhatsApp, então orientação da votação passamos por mensagem de texto mesmo. No WhatsApp é mais debate, brincadeira e futebol.
Há grupos que usam sem moderação o aplicativo. Um deles, integrado por representantes da bancada da bala, tem o hábito de trocar imagens e vídeos pornográficos. O grupo “clandestino” foi criado em 2015, após uma deputada repreender os colegas que usaram o WhatsApp da Frente Parlamentar da Segurança Pública, nome oficial da bancada da bala, para publicar imagens de mulheres nuas.
Presidente da bancada, Alberto Fraga (DEM-DF) diz que o incidente de pornografia ocorreu logo após a criação e que, como havia mulheres entre os integrantes, ele pediu para que o assunto fosse banido:
— Foi só uma vez. Aí uma deputada se manifestou. Eu intercedi: “tem mulher no grupo” e pedi para não ter mais, que ali era só para tratar de segurança. Acho que foi até criado um outro grupo com outros assuntos.
BANCADA DA BALA: ARMAS
Há os que usem o aplicativo para debater situações difíceis. Em 2015, quando os deputados do PT no Conselho de Ética debatiam o apoio ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) — que manobrava para adiar a votação do processo de cassação do seu mandato —, colegas pressionaram pelo WhatsApp: “O PT ficou exposto! Temos que nos reunir para definir uma posição (…) Não podemos nos submeter a essa vergonha. O PT nunca mais conseguirá se recuperar se errar!”, disse um deles.
A bancada da bala ainda usa o aplicativo para defender temas de interesse, como o direito de andar armado no Congresso: “Por que não posso usar sequer uma faca e os índios podem vir aqui armados de flechas e bordunas?”, questionou um deputado.
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