Elas precisaram enfrentar o coronavírus para dar à luz
Bem antes de terem seus bebês no colo, gestantes contam hoje, no Dia das Mães, detalhes do teste maternal duríssimo pelo qual passaram ao se descobrirem infectadas pelo novo coronavírus. A enfermeira Neuma Vasconcelos, de 35 anos, comemorava a gestação perfeita até começarem os sintomas do que parecia, no início, um resfriado comum. Uma semana depois, com falta de ar e dor no corpo insuportável, ela deu entrada na UTI da maternidade Perinatal da Barra, onde trabalha. Era a Covid-19. Com 30 semanas de gestação, ela passaria 12 dias internada.
— Houve uma noite em que achei que morreria. Era uma falta de ar terrível. Cheguei a ficar seis dias sem falar, tomando apenas alimentos líquidos — lembra.
Passado o período pior, já com as dores atenuadas e sem respirar com a ajuda de aparelhos, ela soube pelo médico que, no dia seguinte, poderia voltar para casa. Mas a primeira contração veio poucas horas depois, e, naquela mesma noite, nasceu Bella, com 32 semanas de gestação. Apenas duas enfermeiras, colegas de trabalho da mãe, puderam acompanhar o parto.
A alta foi adiada, e Neuma só voltou a ver a filha quatro dias depois, através de um vidro. Nove dias após o nascimento, já livre de sintomas e com a permissão dos médicos, entrou pela primeira vez na UTI para amamentar o bebê. Agora, ela se divide entre os cuidados com a filha maior, Júlia, de 11 anos, e as visitas diárias à pequena, que continua na incubadora com quadro estável, mas sem previsão de alta.
— Quando finalmente a peguei no colo, fiquei muito emocionada. Tenho fé que logo tudo isso passa e estaremos em casa, todos juntos — conta.
Vítima de um aborto espontâneo em sua primeira gravidez, Ana Carolina Araújo, de 20 anos, contava os dias para a chegada de Manuella. No entanto, quando a bebê nasceu, com três semanas de antecedência, a jovem mãe também teve que se conformar em vê-la rapidamente e à distância: Ana estava internada com suspeita de Covid-19 na maternidade Fernando Magalhães, para onde foi levada com 37 semanas de gestação, dois dias depois de começar a apresentar fortes dores no corpo e febre.
Uma mancha em seu pulmão e um quadro de pressão alta indicaram a necessidade de uma cesariana. Mais tarde naquele mesmo dia, depois de dar à luz, Ana foi transferida para o Hospital municipal Ronaldo Gazolla, referência no tratamento da Covid-19 no Rio, onde passou oito dias internada, sem qualquer contato com a filha, a não ser por meio de um celular.
— Conheci minha filha por chamada de vídeo. Eu só queria poder ter curtido aquele primeiro momento com ela. A doença me privou disso. Via as pessoas ao meu lado com falta de ar, tossindo muito, e eu ali, operada, sem ter certeza de estar infectada, já que o resultado do teste até agora não saiu. Pensava: “E se eu não puder voltar para casa?”— conta.
Apesar de não estar mais com sintomas, Ana toma todos os cuidados: usa máscara sempre que se aproxima da filha e evita períodos longos de contato. Ainda fragilizada pela experiência, ela diz estar feliz de poder celebrar seu primeiro Dia das Mães.
A escriturária hospitalar Renata Travagin Santana, de 29 anos, programava o nascimento do seu segundo filho, Lorenzo, para 9 de julho deste ano. Porém, seus sonhos mudaram da noite para o dia quando, em 11 de abril, começou a sentir os sintomas do novo coronavírus. Ela estava com quase sete meses de gestação. Funcionária do Hospital São Camilo, na capital paulista, Renata foi atendida no pronto-socorro da unidade. Com o teste positivo para a Covid-19, ela conta que se desesperou.
— Comecei a chorar, assustada. Entrei em contato com meu obstetra, e ele me orientou a ficar em isolamento porque eu ainda não tinha sintomas respiratórios. Mas no dia seguinte me faltava ar até para levantar — diz Renata, que precisou ir para a UTI e, ao piorar, foi levada a um parto de emergência.
Foram apenas quatro dias entre o diagnóstico positivo para Covid-19 e o nascimento de Lorenzo, que não contraiu a doença, mas, por ser prematuro, está na UTI neonatal da Maternidade Santa Joana:
— Só conheci meu filho depois do 15º dia de nascimento. Foi emocionante, indescritível. Eu me sinto uma sobrevivente. E ele nasceu muito bem, apesar dos pesares.
O Globo
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