por Nelson de Sá, na Folha de S.Paulo
O grupo Mídia Ninja (de Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) foi tão surpreendido pelas manifestações de junho e julho quanto o resto do país.
O projeto vinha sendo discutido havia quase um ano, com prioridade para lançar site próprio, mas precisou entrar na transmissão ao vivo com o que tinha à mão: página no Facebook, alguns celulares e acesso 3G.
Os protestos prosseguem, mas Bruno Torturra, que lidera o grupo, anuncia que no próximo final de semana o site próprio finalmente vai entrar no ar.
É uma primeira versão, não definitiva, “mas já legal”, inclusive com blogs de outros jornalistas, como ele, saídos de veículos tradicionais de imprensa. Torturra, 34, trabalhou 12 anos na revista “Trip”, onde foi diretor.
Com ele estão “ninjas” mais jovens, como Filipe Peçanha, 24, que transmitia das ruas na primeira madrugada de impacto do coletivo, de 18 para 19 de junho.
Praticamente sem concorrente, acompanhou de celular na mão os confrontos entre a Tropa de Choque e os manifestantes na rua Augusta, perto da avenida Paulista. O fenômeno “ninja” nasceu naquele momento, quando ele calcula ter alcançado 100 mil espectadores.
Na última segunda-feira, durante transmissão no largo do Machado, no Rio, Peçanha acabou sendo preso.
Em seguida, uma multidão já cercou o carro da polícia. Ao entrar na delegacia, três advogados da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) o aguardavam para fazer sua defesa. E milhares chegaram, gritando, “ei, polícia, solta a Mídia Ninja”. Ele foi solto.
A prisão do “ninja” foi parar no “New York Times” e no “Guardian”. Em pouco mais de um mês, o grupo já foi descrito como protagonista de uma “mudança no panorama da mídia”, no “Wall Street Journal”, e como “um fenômeno de mídia que atraiu atenção e admiração de milhares”, no site do Nieman Journalism Lab, da Universidade Harvard.
O Mídia Ninja, pelo relato de Torturra, nasceu dentro do grupo Fora do Eixo, uma rede com mais de duas centenas de grupos de música independente liderada pelo ativista cultural Pablo Capilé.
Peçanha e Rafael Vilela, outro “ninja” que concentra as coberturas ao vivo, moram na própria casa mantida pelo Fora do Eixo, em São Paulo. Um vínculo que, na verdade, originou a maior crítica feita ao grupo até agora.
FINANCIAMENTO
Segundo rumores veiculados nas redes sociais na última semana, o Fora do Eixo atuaria em favor do PT e seria financiado pelo governo federal.
Pablo Capilé divulgou resposta via Facebook, dizendo relacionar-se não só com PT, mas também PSOL, PC do B e a Rede de Marina Silva. E que o FDE recebe de “alguns poucos editais públicos”, sendo a maioria de seus recursos oriunda de shows.
No caso dos editais, são recursos do Ministério da Cultura, mas também da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, vinculada a um governo do PSDB.
A secretaria confirmou à Folha que em 2011 “aprovou um projeto para site colaborativo focado na cobertura de música independente”, que prestou contas regularmente e já foi encerrado.
Quanto ao Mídia Ninja, propriamente, ele busca outras fontes já para financiar o site e escapar das limitações do Facebook.
“A gente tem reuniões abertas sobre crowd funding’ em São Paulo e no Rio”, diz Torturra, referindo-se à alternativa de arrecadar recursos on-line, em plataformas como o site Catarse. O que o “ninja” quer é chegar preparado a 2014, quando prevê mais protestos no país da Copa e da eleição. “2013 foi só o couvert”, diz Torturra.
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