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NA FRANÇA SERRA EXAGERA NAS DIVAGAÇÕES SOBRE LULA E ESCUTA UM CLÁSSICO ‘PORQUE NÃO TE CALAS?’

Do Josias de Souza, na Folha Online:

A coragem é uma qualidade fugidia. Costuma ausentar-se exatamente nos momentos em que é mais necessária.

Tome-se o exemplo de José Serra. Em campanha, revelou-se mais Lula do que a própria Dilma Rousseff.

Chegou mesmo a declarar, numa entrevista radiofônica, que Lula estava “acima do bem e do mal”.

Derrotado, Serra preonunciou o discurso do “até logo”, trancou-se em seus rancores e voou para a França.

Fez uma palestra na aprazível Biarritz, onde se realiza um seminário sobre as relações América Latina–União Europeia.

De repente, tomado de coragem inaudita, Serra revelou-se Serra. Esqueceu Deus e pôs-se a desancar Lula.

Disse que o presidente, cuja administração ele prometia continuar, comanda "um governo populista de direita na área econômica".

Para esse Serra genuíno, personagem que Nelson Rodrigues chamaria de Serra “escocês legítimo”, Lula pratica um "populismo cambial".

Pior: não tem um modelo econômico definido. Sob Lula, disse ele, o Brasil está “fechado ao exterior” e passa por “um processo claro de desindustrialização”.

Aprofundou temas que ignorara na propaganda eleitoral e apenas roçara nos debates televisivos: o baixo investimento público e o excesso de tributação.

Como que a justificar-se, Serra declarou que, durante a campanha, não pôde expor tais ideias do jeito que gostaria!?!?!.

Pronunciou uma frase desconexa: "A democracia não é apenas ganhar as eleições, é governar democraticamente".

A certa altura, vergastou a política externa de Lula. Afirmou que o Brasil uniu-se "a ditaduras como o Irã".

Nesse ponto da palestra, Serra viveu o seu momento Hugo Chávez. Uma voz ergueu-se na platéia.

Membro da Fundação Zapata, do México, um dos presentes gritou para Serra a frase que o rei de Espanha, Juan Carlos, dirigiu a Chávez em 2008, no Chile:

“Por que não te calas?”, sapecou o mexicano. Faz todo o sentido.

Se faltou coragem a Serra no Brasil, melhor que se autoconcedesse uma quarentena de covardia, usufruindo do silencio também no estrangeiro.

"Agora", diria o infante, "Inês é morta".

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