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Na benção natalina, Papa cita imigrantes e faz discurso alusivo sobre abusos clericais

Pope Francis (C) blesses italo-albanian pilgrims of Lungro during an audience in Paul VI hall at the Vatican on May 25, 2019. (Photo by Filippo MONTEFORTE / AFP)

Em sua benção natalina neste dia 25 de dezembro, em meio a uma série de
mensagens políticas e uma menção a “muros de indiferença” enfrentados por
imigrantes, o papa Francisco pediu que o povo venezuelano “receba a ajuda
que precisa”.

O país latino-americano é alvo de embargos e sanções e vê indicadores sociais
e econômicos despencarem em meio a uma disputa entre duas alas políticas
opostas, representadas por Nicolás Maduro, de um lado, e Juan Guaidó, de
outro.

“Que o menino de Belém traga esperança a todo o continente americano, onde
várias nações estão passando por um período de convulsão social e política.
Que ele encoraje o amado povo venezuelano, há muito tentado por suas
tensões políticas e sociais, e garanta que eles recebam a ajuda de que
precisam”, afirmou.

A benção “urbi et orbi” (“para a cidade e para o mundo”, em português)
acontece duas vezes por ano – na Páscoa e no Natal. Em sua mensagem aos
fiéis, o líder máximo da igreja católica também pediu orações pelos povos da
Síria, do Líbano, do Iêmen, da República Democrática do Congo e da Ucrânia.

“Que Cristo leve sua luz às muitas crianças que sofrem em guerras e conflitos
no Oriente Médio e em vários países do mundo”, disse o papa a uma multidão
na Praça de São Pedro, no Vaticano.

Ele também fez menção à disputa de territórios entre israelenses e palestinos.
“Que o Senhor Jesus traga luz à Terra Santa, onde nasceu como salvador da
humanidade, e onde tantas pessoas – com dificuldades, mas sem desanimar –
ainda aguardam um tempo de paz, segurança e prosperidade.”
E pediu orações às vítimas de perseguição religiosa, “especialmente
missionários e fiéis que foram seqüestrados”, e às “vítimas de ataques de
grupos extremistas, particularmente em Burkina Faso, Mali, Níger e Nigéria”

IMIGRANTES

Os imigrantes mais uma vez foram alvo de defesa e pedidos de orações pelo
papa Francisco.

Em uma das frases mais fortes da benção, o católico disse que os mares e
desertos atravessados pelos migrantes se transformam em “cemitérios”.

Ele também se referiu a “muros de indiferença” como obstáculos aos homens
e mulheres que deixam seus países em busca de segurança e oportunidades.
“Que o Filho de Deus desça à terra do céu, proteja e sustente todos aqueles
que, devido a injustiças, são forçados a migrar na esperança de uma vida
segura”, afirmou.

“É a injustiça que os faz atravessar desertos e mares que se tornam cemitérios.
É a injustiça que os obriga a viver formas indescritíveis de abuso, escravidão
de todo tipo e tortura em campos de detenção desumanos”.

Ele completou: “É a injustiça que os afasta de lugares onde eles podem ter
esperança de uma vida digna, mas se vê diante de muros de indiferença”.

O QUE O PAPA DISSE?

“O Natal nos lembra que Deus continua a amar todos nós, mesmo os piores de
nós. Para mim, para você, para cada um de nós, ele diz hoje: ‘Eu amo você e
sempre amarei você, pois você é precioso aos meus olhos”, disse o pontífice.

“Deus não ama você porque você pensa e age da maneira certa. Ele ama você,
pura e simplesmente. Seu amor é incondicional; não depende de você”.
E o Papa também aludiu aos abusos clericais e escândalos financeiros que
afetam a Igreja.

“O que quer que dê errado em nossas vidas, o que não funciona na Igreja,
quaisquer que sejam os problemas existentes no mundo, não servirão mais de
desculpa”.

QUAL É O CONTEXTO?

De cidades australianas a escolas na Irlanda e cidades nos EUA, a Igreja
Católica vem enfrentando uma série de acusações de abuso sexual infantil nas
últimas décadas.

Casos de destaque e testemunhos contundentes de vítimas continuaram
mantendo o assunto nas manchetes.

No mais recente deles, o cardeal George Pell foi condenado por abusar de dois
garotos do coral em Melbourne em 1996. Pell era a principal figura da Igreja

Católica na Austrália e havia sido tesoureiro do Vaticano – ou seja, ocupava o
terceiro cargo mais poderoso da Santa Sé.
Na semana passada, o papa introduziu mudanças radicais para remover a
regra do “sigilo pontifício” que permeou a questão do abuso de crianças
clericais.

A Igreja anteriormente mantinha casos de abuso sexual em segredo,
argumentando que se tratava de um esforço para proteger a privacidade das
vítimas e a reputação dos acusados.

Mas novos documentos papais suspenderam restrições sobre aqueles que
denunciam abusos ou dizem que foram vítimas.

O papa também mudou a definição de pornografia infantil do Vaticano,
aumentando a idade de 14 ou menos para 18 ou menos.

Francisco enfrentou sérias pressões para liderar e gerar soluções viáveis para
a crise, que tomou conta da Igreja nos últimos anos.