Por Thea Tavares, no Circuito Rock:
O segundo show punk do Front Bar, no último domingo (31/07), consagrou um desejo de todo músico: a valorização dos trabalhos autorais. Apesar da chuva, que pouca trégua deu à organização do evento, aproximadamente 400 pessoas prestigiaram os shows, as bandas e o ambiente de agradável contestação bem no centro de Curitiba. Jovens de municípios da região metropolitana – como Piraquara, Colombo e São José dos Pinhais – também aproveitaram a oportunidade que o “Suspiro!!” proporcionou para transmitirem seu recado e registrarem sua atitude.
Castor, baixista da banda Ribas on the Rocks, que voltou este ano de uma turnê pelos Estados Unidos, foi lá conferir o trabalho dos garotos e se surpreendeu não só com o novo espaço, mas também com a renovação e força que o movimento punk de Curitiba traz para a cena underground.
“Vemos um público novo, sedento por agito, por mostrar seu trabalho e Curitiba precisava desse fôlego, pois além de ter pouca coisa voltada para o punk por aqui, há tempos que o clima estava muito complicado para as bandas autorais e isso não acontece em outras cidades, muito menos lá fora, onde a recepção é diferente”, disse.
Castor trabalha com produção artística e percebe nessa febre de “cover” uma particularidade curitibana, o que é bastante contraditório, uma vez que a capital do Paraná já foi reverenciada como encubadora de talentos. “Pode até continuar sendo, mas as bandas têm de sair para mostrar seu trabalho”, completa.
Quem endossa as críticas é o vocalista e guitarrista da Macedonia, Kleber Santos, quando suspira aliviado: “som próprio é a redenção”! A banda dele é reconhecida por tocar cover do Nirvana, Iggy and Stooges e do MC5 e costuma lotar bares e casas de show sob essa batida, mas se realiza pra valer quando consegue levantar a galera ao som das suas próprias composições.
Atitude punk é companheirismo
Entre sangue novo, metaleiros e punks calejados, salvaram-se todos. Assim como em uma roda de poga, se uma pessoa cai no chão, não faltam braços para levantá-la, a garotada também demonstra companheirismo na hora do show, quando é preciso improvisar para fazer dar certo.
Alexandre Ricardo de Souza, vocalista do SOS Chaos e um dos organizadores do show, lembra que foi tudo dando errado, a começar pela chuva, para no final acertar passo. Com a sequencia das apresentações nas mãos, ele remanejava a programação a todo momento para garantir a hora exata de uma nova banda entrar em cena. “Algumas bandas atrasaram e a gente foi alterando a ordem.
Nesse meio tempo, o cara de uma banda virava ‘roadie’ (uma espécie de faz-tudo na logística do palco) das outras”, disse Alexandre. Quando questionado sobre o sucesso do “Suspiro!!”, ele comentou que os músicos, ao final das apresentações, agradeceram o espaço e pediram para tocar de volta, além dos que foram lá só para observar.
“No terceiro show do Front Bar, dentro de aproximadamente um mês, a ideia é colocar na grade da programação as bandas que ficaram de fora deste e reapresentar algumas que subiram ao palco nos dois primeiros”, afirmou. Não vai ser nada fácil.
Como não foi fácil aos metaleiros do Faces of a shadow’s poet se reunirem pela segunda vez para tocar já no palco do Front Bar. E mandaram muito bem! Com essa formação e na batida do metal core, Lucas, Igor, Felipe, Henrique e Lipe só estão juntos há pouco mais de duas semanas.
E tudo porque o Igor, um dos seis baixistas que responderam a um anúncio colocado na internet pela namorada do vocalista há dois anos atrás – que é isso?! -, conhecia os rapazes da organização do show.
Esses garotos têm sede de tocar e é por isso que se irmanam também no movimento em favor da música em Curitiba “Além do Silêncio”, que faz frente à truculenta perseguição contra bares que abrem espaço à música local.
“Qualquer vizinho rabugento e intransigente hoje tem o poder de impedir uma manifestação cultural, onde é que isso vai parar?”, questionam. Eles ainda acham absurda a cobrança para que as bandas toquem em alguns estabelecimentos comerciais. “Você precisa fazer rateio para pagar estúdio de ensaio e se tiver que bancar também pra tocar, chega uma hora em que não dá para continuar”, reclama Lucas, o vocalista do Faces.
João Victor, o Jão, da banda “Os Piolhentos”, que pode ser considerado um veterano do Punk Rock 77 em Curitiba, pois já se apresentou em 25 shows e foi parceiro na organização deste segundo evento no Front Bar, acredita que o objetivo seja revigorar o movimento punk na cidade. Também por já ter pego estrada e tocado em outros estados, em bares pequenos e festivais undergrounds, Jão acha o espaço do Front Bar perfeito para o agito punk da cidade. “A tendência é crescer, com a divulgação boca a boca e com a frequencia de apresentações”, afirmou.
E é bem nisso que aposta o proprietário do espaço, Jairo Almeida, satisfeito e orgulhoso do sucesso da garotada: “Não rola briga, treta, nem nada, como acontecem em outros ambientes. Porque o ideal punk é ser libertário, ou seja, respeitar a individualidade de cada um”. Um excelente princípio para quem quer apenas e tão somente fazer acontecer!
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