MUJICA ASSUME NO URUGUAI E PEDE UNIÃO E CONCESSÕES A MERCOSUL
POR JULIA DUAILIBI PARA O ESTADÃO:
O ex-guerrilheiro José "Pepe" Mujica, de 75 anos, assumiu ontem a presidência do Uruguai com discurso pragmático, no qual acenou com a opção por uma gestão de centro, voltada para o controle de gastos e "ortodoxia" na condução da política econômica. Na frente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Mujica também pediu aos sócios maiores do Mercado Comum do Cone Sul (Mercosul) empenho para que os membros do bloco estejam unidos "até que a morte os separe".
"Seremos sérios na administração do gasto, sérios no controle do déficit, sérios na política monetária e mais do que sérios na vigilância do setor financeiro. Permitam-me dizer de uma maneira provocativa: seremos ortodoxos na condução da política econômica", declarou no Parlamento Nacional, onde estavam os presidentes Hugo Chávez (Venezuela) e Álvaro Uribe (Colômbia) e a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. "A macroeconomia tem regras ingratas, porém, obrigatórias", completou.
Ex-guerrilheiro tupamaro, preso por 14 anos ao fazer oposição ao regime militar do Uruguai (1973-1985), defendeu na campanha um caminho de centro-esquerda, mais ao molde do governo Lula, que citava como exemplo, do que o de Chávez.
Eleito pela Frente Ampla, congregação de partidos esquerdistas, Mujica é o segundo político de esquerda a assumir a presidência uruguaia. Recebeu o governo das mãos de Tabaré Vázquez, que ao se eleger em 2004 quebrou o revezamento centenário dos "brancos" e "colorados" na política do país. Sem disfarçar que haverá continuidade – Tabaré sai com mais de 60% de aprovação -, Mujica afirmou que sua gestão será "mais do mesmo".
A posse do uruguaio quebrou um pouco da liturgia presidencial. Mujica, que avisou que continuará morando no seu sítio com a mulher, a ex-guerrilheira e senadora Lucia Topolansky, pediu que parte da celebração fosse feita em praça pública, fato até então inédito. Usou como traje apenas camisa e paletó, sem gravata. A primeira-dama também "quebrou" o protocolo usando calça.
Na plateia, Lula ouvia o discurso ao lado de Uribe. "Compactuo com o companheiro Mujica. Um país do tamanho do Brasil, do tamanho da Argentina, os países maiores têm que ter mais generosidade com os países menores", disse.
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