Movimento popular cobra rapidez na regularização fundiária
A regularização fundiária continua na pauta de reivindicação do movimento popular de Curitiba. São mais de 80 mil famílias, cerca de 200 mil pessoas, que vivem nessa situação e espelhados nos projetos bem sucedidos da Vila Zumbi (Colombo) e Guarituba (Piraquara), agora cobram uma solução imediata dos órgãos públicos.
Jairo Graminho, presidente da União Geral de Bairros de Curitiba e Região Metropolitana, tem 79 anos e milita no movimento popular desde os 18 anos. “São dois projetos que devem ser estendidos às outras áreas de Curitiba com a participação da prefeitura e dos governos federal e estadual. Todos devem se envolver para resolver a situação”, aponta Graminho que conhece o governador Roberto Requião dos tempos “que ele era advogado do movimento popular, das associações de bairro. Isso no final dos anos 70 e no início dos anos 80”.
Graminho, em entrevista a Agência Estadual de Noitícias, diz que o movimento popular foi o principal responsável pelas eleições de Requião a Assembléia Legislativa em 1981 e depois á prefeitura de Curitiba, em 1985. “Na prefeitura e nos dois mandatos no governo do Estado, Requião tem como sua principal marca a proximidade com o movimento popular, com os mais necessitados. Está aí a sua força política”, diz Graminho. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
O senhor é um dos precursores do movimento popular de Curitiba. Como foi este começo?
Jairo Graminho – Sou um dos pioneiros. O movimento popular de Curitiba nasceu em 1975, numa luta pela garantia da posse de moradores que viviam em favelas e terrenos irregulares. Isto vem se batendo até hoje, a reivindicação continua até hoje.
Como era a luta naquela época?
Graminho – Dá para a gente dividir isto em duas etapas. A primeira é que era ditadura, era muito difícil, era proibido reuniões públicas, mas por outro lado era bom porque o povo tinha muita necessidade da luta e participavam. Nós fizemos um encontro em 1983 no Ginásio Tarumã, que superlotou o ginásio, movimento popular como este aqui. Hoje estou vendo que tem bastante gente mas muito longe de ser aquilo que era no começo. Então, no começo a gente tinha facilidade de mobilização, a gente mobilizava o pessoal em torno das reivindicações, pressionava a prefeitura, o governo do Estado. Hoje esta mobilização praticamente acabou, tomara que retome agora.
Qual eram as principais necessidades do pessoal naquela época?
Graminho – Era uma série de reivindicação. Primeiro a questão de saúde, segundo, creche não tinha nenhuma em Curitiba, a luta começou com nós, inicialmente conseguimos 10 creches, fizemos. Terceiro, a luta por moradia, muita gente que não tinha onde morar, vivia em favelas, não tinha água encanada, não tinha luz elétrica, não tinha projeto de rua, não tinha nada.
Sem escritura a prefeitura não podia ligar água e luz?
Graminho – Quem tinha podia, quem não tinha não podia. E Curitiba naquela época tinha muita gente morando em terrenos irregulares. Então foi uma luta muito grande e a gente levou cerca de quatro anos para poder conseguir água e luz em todas as favelas.
Foi nessa época que o senhor conheceu o governador Requião?
Graminho – Foi no final dos anos 70. Requião foi o nosso segundo advogado, do movimento popular e das associações de bairros. Foi com o voto dos bairros e da periferia que ele se elegeu deputado estadual e depois para a prefeitura. Agora Requião tem uma marca muito boa. Na prefeitura e nos dois mandatos no governo do Estado, Requião tem como sua principal marca a proximidade com o movimento popular, com os mais necessitados. Está aí a sua força política
De lá para cá, o que houve que esfriou a mobilização popular. É por causa destas conquistas já alcançadas?
Graminho – Acho que sim. A maioria das favelas, ainda algumas não são legalizadas, mas elas melhoraram as condições. Elas têm os serviços básicos da prefeitura e do Estado e também uma casinha não muito boa mas tem também para morar em cima do terreno irregular. Então hoje acalmou muito isto aí.
E qual é a pauta de hoje da mobilização? O que as favelas e associações tem que levar e tem que ser feito hoje?
Graminho – A pauta de hoje é principalmente a regularização fundiária. É muito grande a necessidade em Curitiba. A pessoa não tendo a escritura do terreno, não pode fazer um financiamento para melhorar a casinha. Então é uma série de coisas que é ruim. Então o principal hoje é a regularização fundiária e algumas favelas, que ainda tem em Curitiba e região metropolitana, que elas não melhoraram muito e tem que haver um trabalho especial para que elas melhorem. Por exemplo, a favela do Parolin, uma das maiores de Curitiba e que até hoje tem gente lá morando em situação precária e outras na região metropolitana, tem algumas favelas que precisam apoio do Governo do Estado, porque só a prefeitura não é suficiente para que isso possa melhorar, como já está sendo iniciado no município de Piraquara. A Vila Zumbi é um exemplo que pode ser feito no Parolin também e outras áreas também.
Com relação a cidadania, tem muitas pessoas que não tem documento? Isto faz falta para os moradores?
Graminho – Olha, eu acho que em Curitiba tem, seguramente, 20% que não tem documentação. E isto faz falta muito grande, para tudo que é coisa. Até mesmo para ligar uma água hoje na Sanepar, ou uma luz na Copel, precisa de uma declaração da associação de moradores senão não liga, isso tudo porque falta documentação legal.
Dá para ter uma dimensão de quantas famílias vivem nas ocupações?
Graminho – Curitiba tem mais de 200 mil pessoas, cerca de 80 mil famílias nesta situação. E na região metropolitana são 136 mil famílias vivendo de forma precária.
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