Do http://jornale.com.br/zebeto/
O que é que este Dorival Caymmi tem para ficar assim, impregnado na nossa alma para sempre? Ele tem a vida, disse há pouco uma das netas, em Salvador, terra onde ele nasceu há 94 anos, e carregou para sempre até partir hoje cedo no Rio de Janeiro, para onde se mudou na década de 30. Vida, palavrinha tão simples mas de significado tão incompreendido pela maioria de nós. Os grandes artistas, os grandes poetas, estes sabem. E este Dorival que parece ter nascido sempre de cabelos brancos, com aquele ar de bondade e sorriso iluminado, com aquele ritmo da natureza que cadenciava até a maneira de falar, ah!, como ele sabia de vida, das coisas importantes, das coisas simples que traduzia em forma de letra, em forma de música, que deixou para sempre como um grande tesouro. Caymmi cantou a natureza, o mar em especial, cantou o amor, cantou a beleza de uma forma tão simples e sincera que às vezes é preciso ouvir e ouvir e ouvir para saber que este baiano estava sim, dizendo o que nossa alma entende, mas, infelizmente, não tem o dom de expressar. Minha jangada vai sair pro mar, vou trabalhar, meu bem querer; se Deus quiser quando eu voltar do mar, um peixe bom, eu vou trazer. Rosa, morena, onde vais morena Rosa, com esta rosa no cabelo e este andar de moça prosa, morena, morena rosa. Eu vou pra Maracangalha, eu vou; eu vou de uniforme branco, eu vou; eu vou de chapéu de palha, eu vou; eu vou convidar Anália, eu vou; se Anália não quiser ir, eu vou só. Ai, minha mãe, minha Mãe Menininha; ai, minha mãe, Menininha do Gantois. Cem músicas, algumas que levaram anos para serem feitas, mas, para que a pressa? Amou e ficou junto de uma mulher, Stella Maris, cantora. Se não bastasse ser iluminado por todos os santos, fez mais três obras fantásticas em forma de filhos artistas: Nana, Dori e Danilo, que multiplicam em sons o legado do pai. Dorival Caymmi, que nos encantou e encantará para sempre, encantou-se hoje. Adeus, Dorival Caymmi, o homem que sabia o que importa na vida.