Sérgio Moro não é político. Segundo os amigos mais próximos, nem deseja sê-lo. Não tem a mínima vontade de disputar um cargo eletivo. No entanto, Moro está no epicentro da política nacional. Depende dele o futuro da própria presidente da República, Dilma Rousseff. Afinal, a Operação Lava Jato, sob sua responsabilidade, tem encontrado tanta falcatrua com o dinheiro público que não está longe de comprovar que a reeleição de Dilma foi feita com muito dinheiro e boa parte dele veio do propinoduto da Petrobras. As informações são da revista Ideias.
Moro declarou à Justiça Eleitoral que a Operação Lava Jato comprovou o repasse de propina a campanhas eleitorais em troca de contratos da Petrobras. Ele encaminhou ao Tribunal Superior Eleitoral documentos de dez ações penais da Lava Jato que subsidiam um dos quatro processos que podem resultar na cassação da presidente Dilma Rousseff e de seu vice, Michel Temer.
Sua intervenção foi incisiva e não dá margem a manobras ou interpretações. “Destaco que na sentença prolatada na ação penal 5012331-04.2015.404.7000 reputou-se comprovado o direcionamento de propinas acertadas no esquema criminoso da Petrobras para doações eleitorais registradas”, escreveu Moro, em ofício ao Tribunal Superior Eleitoral.
Desde então ele é visto como persona non grata no Palácio do Planalto, no Alvorada, na Granja do Torto, nos ministérios, na sede das estatais e em todos os lugares onde se exerce o poder conquistado e mantido pelo PT há 13 anos.
Desesperado, o PT mobiliza a tropa de choque e parte para o ataque na tentativa de desqualificar o juiz Sérgio Moro. O site do partido chegou a reproduzir um post publicado na página de Facebook de um diretor de TV chamado Jorge Furtado, que disse: “Nunca houve uma perseguição política contra um homem público como a que a direita e sua mídia estão fazendo agora contra Lula. O objetivo é só um: tentam enfraquecê-lo para a eleição de 2018. (…) A notoriedade que hoje dão às decisões de um juiz medíocre de primeira instância em Curitiba e sua turma de policiais e procuradores tucanos é parte deste espetáculo grotesco, onde a imprensa de direita é, mais uma vez, a protagonista”.
Propinoduto provado
No processo citado por Moro, a Justiça Federal entendeu que o diretório nacional do PT recebeu propina de 4,26 milhões de reais, entre 2008 e 2012. O dinheiro ilícito era destinado à Diretoria de Serviços da Petrobras, então comandada por Renato Duque, e repassado ao partido por empresas de Augusto Ribeiro de Mendonça Neto com aval do ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto, preso e condenado pela lavagem de dinheiro por meio dessas doações.
Moro sugeriu ao TSE que ouça os delatores da Lava Jato que confirmaram em âmbito criminal que repasses de propina foram mascarados como doações eleitorais oficiais e também entregue como caixa dois. O doleiro Alberto Youssef relatou em acordo de colaboração premiada que Dilma e o ex-presidente Lula tinham conhecimento do esquema criminoso na Petrobras. O empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, declarou ter sido pressionado a fazer doações de 7,5 milhões de reais à campanha de reeleição da presidente, em 2014, pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, então tesoureiro da petista.
Moro disse ao TSE que, segundo uma das denúncias do Ministério Público Federal, “recursos de propinas no esquema criminoso da Petrobras teriam sido utilizados para doações eleitorais não-registradas”. No TSE, Dilma e Temer são alvos de uma representação, duas ações de investigação judicial eleitoral e uma ação de impugnação de mandato eletivo. Nesta última, que corre em segredo de Justiça, Temer apresentou uma defesa em que rebate a acusação do PSDB e rechaça o recebimento de dinheiro de propina em caixa dois ou doação registrada. O peemedebista fala em “inconformismo” do PSDB com o resultado das eleições e afirma que o partido também recebeu dinheiro das empreiteiras investigadas na Lava Jato.
Moro não se abala com esse tipo de manobra que em qualquer país em que a civilização pegou a algum tempo, estas provas derrubariam o presidente da República. Vivemos no Brasil, onde as leis não pegam e há sempre uma margem para driblá-las. Moro é quem mais sabe disso. E é por essa razão que ele fez um apelo à população, num pronunciamento que deve entrar para a história do Brasil. “Estou vinculado aos fatos, às provas e à lei. E é isso que vou fazer nos meus processos, seja para absolver o inocente ou condenar o culpado. Eu me disponho ir até o final dos meus casos, mas estes casos envolvendo graves crimes de corrupção envolvendo figuras públicas poderosas só podem ir adiante se contarem com o apoio da opinião pública e da sociedade civil organizada. E este é o papel dos senhores”, disse ele.
Para responder a esse apelo, a senadora Gleisi Hoffmann, já denunciada pelo doleiro Alberto Youssef e pelo ex-diretor da Petrobras, Roberto Costa, como beneficiária de R$ 1 milhão desviado dos cofres da viúva para a sua conta de campanha, que fez longuíssimo e laxativo discurso em defesa de Lula. Entre outras, tenta provar que Lula é santo e que tudo que fez, lícito ou não, foi em favor da população mais pobre.
O Conselho Político da presidência do PT reuniu-se no Hotel Grand Mercure Ibirapuera, na zona Sul de São Paulo, para discutir a linha de defesa para as acusações contra a principal liderança do partido, o ex-presidente Lula, alvo de investigações relacionadas a imóveis e empresas de seus filhos. Lá estavam políticos com poder, como os governadores Camilo Santana (CE), Wellington Dias (PI), Tião Viana (AC). Também o prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) e intelectuais e escritores ligados ao partido, como Emir Sader, Fernando Morais e Eric Nepomuceno. Estão presentes, ainda, sindicalistas e economistas colaboradores do PT.
Ou seja, o PT está preocupado e reuniu a força mais pesada para tentar conter o avanço das denúncias. Com desfaçatez incrível, o presidente nacional do partido, Rui Falcão, mencionou como pautas de discussão do encontro “as investidas contra o Estado Democrático de Direito” e “formas de retomada do crescimento econômico”. Grotesco.
O conselho procura atender Lula, que pede uma ação mais incisiva do partido em sua defesa. Lula, que é alvo de inquérito em Brasília para apurar irregularidades em serviços prestados pela empresa de um de seus filhos e as benesses e prebendas recebidas pelo próprio Lula, que inclui um apartamento tríplex, luxuosíssimo, no Guarujá, e um sítio, também luxuoso, em Atibaia. Imóveis ligados a ele, que foram reformados por empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato.
A verdade é que as investigações provam que Lula foi beneficiário de empreiteiras que ajudou quando estava no cargo. O envio pelo ex-presidente de pertences pessoais e de sua família do Palácio da Alvorada para o Sítio de Atibaia oito dias após deixar a presidência da República reforça, para integrantes da oposição, que ele é o verdadeiro dono da propriedade. Com isso, acreditam que se comprova que o petista deliberadamente ocultou bens patrimoniais. A imprensa informa que no dia 8 de janeiro de 2011, 200 caixas saíram do Palácio da Alvorada com destino ao Sítio Santa Bárbara, em Atibaia, frequentado por Lula, mas não de sua propriedade legal.
A ira petista, na verdade, volta-se contra o juiz Sérgio Moro, que foi aconselhado a reforçar sua segurança pessoal e de sua família. Qual o que. Moro segue impávido
O senador Ronaldo Caiado, do DEM, avalia que Lula seria o real dono do sítio de Atibaia e que o envio de equipamentos de ginástica da ex-primeira dama Marisa Letícia, 37 caixas de bebidas, entre outros pertences, são a comprovação disso.
“Não faltam provas e indícios de que Lula é o real beneficiário desses imóveis. Além da possível ligação com os desvios cometidos na Petrobras, Lula ainda pode ser acusado de usar laranjas para ocultar bens. Impressiona também a quantidade de bebida. De onde veio tanto recurso para isso? Moro está cada vez mais próximo de identificar o cabeça do Petrolão”, disse Caiado.
Um amigo próximo de Lula, que pediu reserva, disse que não há crime nenhum no uso do sítio de Atibaia por Lula porque um dos proprietários, Fernando Bittar, é considerado um filho por ele e dona Marisa e que o conhecem desde a infância. O senador Lindbergh Farias, do PT, afirmou que há uma campanha de perseguição contra Lula para desconstruir sua imagem e inviabilizar sua volta, em 2018.
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou que não se pode aceitar esta “perseguição” como um dado da realidade. Em um texto publicado em sua página, Gleisi trata com ironia dos malfeitos de Lula. Segundo ela, o ex-presidente e o PT promoveram a ética mais do que os outros políticos e partidos.
— Depois de oito anos no poder e de ser, após Getúlio e Kubitscheck, quem ousou ter um projeto de desenvolvimento nacional, é acusado de se relacionar com empreiteiros, beber whisky, de querer ter um apartamento na praia, no Guarujá, de tê-lo visitado, embora não comprado, de utilizar e investir num modesto sítio de amigos, de ter um bote de alumínio para pescar no pequeno lago do sítio. Não pode, um operário, um pobre, que chegou à Presidência?! Quem pensa que é? É praticamente da família, mas não pode sair do quartinho dos fundos, nem comer o sorvete gourmet, tal qual o personagem de Regina Casé, em “Que horas ela volta?!”. Não estou santificando Lula, só acho que os pecados que ele cometeu ou comete não podem ter valor maior na bolsa celestial — escreveu Gleisi.
A ira petista, na verdade, volta-se contra o juiz Sérgio Moro, que foi aconselhado a reforçar sua segurança pessoal e de sua família. Qual o que. Moro segue impávido, alheio às elucubrações de petistas como Gleisi Hoffmann, que ele sabe que defendem Lula em causa própria. Tementes de que a Lava Jato os alcance, querem jogá-la no pântano da maledicência e da desmoralização. Dizem as pesquisas que isso hoje é impossível. É quase unânime a posição dos brasileiros em favor da Lava Jato e do juiz Sérgio Moro.
Foto: reprodução/capa/Ideias
Deixe um comentário